‘Tio do Salgado’ de Diadema faz greve de fome após assalto

O dinheiro acumulado ao longo de um ano inteiro de economias pelo ambulante Antônio Uberlan Batista de Cerqueira, 45 anos, já tinha destino certo. Serviria para a compra de uma máquina de fazer coxinhas e para dar a entrada no financiamento de um automóvel, bens que facilitariam – e muito – seu trabalho. Hoje, ele vende salgados pelas ruas de Diadema a pé. Mas as coisas não saíram como o planejado. Na última semana, enquanto colocava o lixo para fora de casa, foi dominado por um assaltante, sua casa foi invadida e os R$ 11 mil que tinha guardado foram roubados.

Bateu o desespero. Com contas para pagar e sem dinheiro para produzir, o ‘Tio do Salgado’ inicialmente ficou deprimido, quase sem rumo. Depois, resolveu reagir e encontrou uma forma inusitada de chamar a atenção para o seu problema utilizando duas armas possíveis: fé e jejum.
Vestiu as roupas usadas para atender a clientela, pegou as caixas de isopor com as quais mantém a temperatura de seus quitutes, escreveu um cartaz e foi para a rua. Fez greve de fome por 20 horas, com intuito de sensibilizar o malfeitor e, quem sabe, reaver o que foi levado.

‘Ladrão, eu não tenho ódio de você, já te perdoei, mas eu quero meu dinheiro. Preciso pagar minhas contas e comprar material para voltar a trabalhar, vou usar minha única arma (sic) o terço e o jejum. Vou lutar até o último suspiro!!’, é o texto escrito em vermelho no cartaz.

Baiano de nascimento e morador de Diadema desde 1993, Cerqueira já foi garçom e churrasqueiro. Divorciado e pai de duas filhas, ele ficou desnorteado com o roubo. “Passei os dias depois do assalto muito abatido. Não tinha vontade de levantar da cama. Fiquei sem dinheiro para comprar material para trabalhar. Estava muito desmotivado. As pessoas percebiam que eu chegava atrasado aos lugares, às vezes, até faltavam salgados”, conta.

Tentando voltar à rotina, ele assegura que a mensagem exibida é sincera. “Eu não tenho ódio do ladrão, também não quero mal a ele. Apenas desejo o meu dinheiro, lutei muito por ele”, lamenta.

O carro que Cerqueira planejava comprar era um Fiat Fiorino, cujo preço varia de R$ 12,8 mil (ano 2003) a R$ 42,7 mil (2017). O veículo tornaria sua jornada mais leve, uma vez que ele carrega duas mochilas térmicas que originalmente são utilizadas por motoboys para fazer entregas, e uma caixa de isopor. “Eu sou o trabalhador mais feliz do mundo, tenho respeito dos clientes”, diz.

AJUDA VIRTUAL

O responsável pelo roubo ainda não se sensibilizou com o apelo do ‘Tio do Salgado’. Entretanto, sua história foi parar em uma rede social e foi visualizada por milhares de internautas. Chocado com o que viu, o consultor de vendas Igor Mesquita, 19, que havia comprado salgado de Cerqueira no dia anterior, resolveu criar vaquinha virtual para ajudar a recuperar o dinheiro. “Decidi fazer a vaquinha com o intuito de juntar uma quantia para que ele pudesse, pelo menos, voltar a trabalhar”, afirma.

Até o fechamento desta edição, a vaquinha, hospedada no endereço virtual www.vakinha.com.br/vaquinha/vamos-ajudar-o-tio-do-salgado somava R$ 1.910,46. “Eu não sabia que tinha tantos amigos. Vou produzir mais para poder ajudar outras pessoas. Essa é a minha melhor maneira de agradecê-los”, garante Cerqueira.

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