Um outro olhar

Parece óbvio, mas é importante ressaltar: a primeira coisa a ser feita antes de conferir O Artista do Desastre (2018) – dirigido e protagonizado por James Franco –, com estreia marcada no Brasil para o dia 25, é assistir ao filme original: The Room (2003). Lançado pela icônica figura de Tommy Wiseau, foi considerado um dos piores produzidos em toda a história das telonas.

O longa mostra toda a paixão por cinema – e a falta de ‘talento’, assim podemos dizer – que conduz Wiseau e seu coprodutor, Greg Sestero (Dave Franco, irmão de James). Movidos pelo sonho de serem grandes atores, os dois partem para Los Angeles em busca de fama e visibilidade. Lá, descobrem que a indústria Hollywoodiana não é tão simples. Depois de ouvir muitos ‘nãos’ e receber uma frustração atrás da outra, Tommy decide fazer seus desejos se realizarem por suas próprias mãos. Inclusive pagar por eles: US$ 6 milhões do próprio bolso (O Artista do Desastre custou US$ 10 milhões).

Assim surge The Room, cuja trama é composta por diálogos absurdos e cenas sem qualquer nexo. O herói é Johnny, interpretado pelo próprio diretor, um homem sem defeitos e que, mesmo assim, é traído por sua noiva com seu melhor amigo Mark, interpretado por Greg Sestero. O filme ficou em cartaz por duas semanas e conseguiu arrecadar, em bilheteria, apenas US$ 1.800 (o de Franco passou dos US$ 24 milhões nas salas norte-americanas). Apesar de considerado ruim, a fama o fez ganhar status de cult e hoje enche salas de cinema dos Estados Unidos em sessões da madrugada.

The Room é tão ruim, mas tão ruim, que ganhou um filme bom para contar tudo o que aconteceu em seus bastidores. Bem cotado para o Oscar 2018, cuja lista oficial será divulgada em uma semana, a crítica já concedeu prêmios ao O Artista do Desastre: Globo de Ouro na categoria melhor ator de comédia ou musical e um Critic’s Choice Awards em melhor ator de comédia para James Franco.

Franco consegue trazer às telonas o lado inevitavelmente cômico de Wiseau, homem misterioso, com idade não divulgada, vindo sabe-se lá de onde e dono de fortuna, cuja origem nunca foi revelada. Esta figura é extremamente caricata por causa dos cabelos longos, sotaque europeu, olho esquerdo caído e a impressão de que está sempre distante da realidade, vivendo no ‘Planeta do Tommy’, como ele mesmo diria. Ao mesmo tempo, o protagonista consegue humanizá-lo destacando seus sonhos e dramas.

Outro acerto da produção é a química entre os irmãos Franco, que ilustra bem a relação complexa entre Tommy e Greg. Dave Franco mostra com seu personagem a sensibilidade e o realismo que faltam no eloquente personagem de Wiseau. De certa forma, é como se os dois se completassem em uma amizade que acaba sendo o centro da trama.

O elenco do longa de Franco também conta com nomes consagrados, como os de Seth Rogen, constantemente presente nos filmes do diretor, Zac Efron, Josh Hutcherson e Alison Brie. Com a premissa de ser uma comédia, cumpre bem o que promete de modo que seus 103 minutos passam sem que se perceba. O longa dá vida a um filme que, apesar dos pesares, foi feito por alguém que acreditava no que sonhava.

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