A inflação oficial do País encerrou 2017 em 2,95%, menor índice desde 1998, quando chegou a 1,65%. Conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados ontem, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) terminou o ano abaixo do piso da meta do governo, de 3%, pela primeira vez desde 1999, quando o regime de metas da inflação foi implementado no Brasil.
Dessa forma, o Banco Central teve de divulgar uma carta para explicar por que o índice ficou fora da projeção – cuja meta é de 4,5%. A justificativa foi a deflação dos preços dos alimentos. Após terminarem 2016 com alta de 9,36%, encerraram o ano passado com queda de 4,54%. O movimento foi provocado pela safra recorde de 2016/2017 com crescimento de 27% sobre a anterior. “Se excluirmos do IPCA o subgrupo alimentação no domicílio, fazendo posteriormente a reponderação do índice (os alimentos têm o maior peso), a inflação passaria de 5,68% em 2016 (que encerrou em 6,29%) para 4,54% em 2017, valor muito próximo à meta de inflação para este ano”, disse o presidente do BC, Ilan Goldfajn, ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, na carta.
Especialistas criticam a falta de projeção do BC, principalmente pelo fato de haver equipe especializada para desempenhar o trabalho. “Você tem uma projeção e então o empresariado trabalha dentro dela. Quando fica longe da meta, como aconteceu, atrapalha o planejamento das empresas e, inclusive, seus investimentos”, avalia o professor de Finanças da Fipecafi George Sales.
O professor de Administração Estratégica e superintendente geral do Instituto Mauá de Tecnologia, Francisco Olivieri, afirma ainda que o índice baixo não indica recuperação da economia. “Nós tivemos safra agrícola recorde e grandes negócios com o Exterior, mas os outros setores ainda precisam se desenvolver. Quanto ao ajuste fiscal, o governo não tem feito nada, e só isso vai fazer o investidor voltar a investir no País.”
Para Sales, o próprio governo acabou freando o índice, com a diminuição da circulação do capital. “Quando o governo não gasta em obras públicas, por exemplo, ele não coloca o dinheiro em circulação, então ele é o primeiro a segurar, mesmo arrecadando tributos.”
Também contribui à redução do IPCA o fato de os próprios consumidores pisarem no freio dos gastos, devido ao ambiente de incertezas que também represou investimentos. “A oferta de produtos aumentou e o consumo diminuiu, sendo que a alimentação é o mais difícil de se cortar, mas até isso você seleciona, mudando marcas e substituindo produtos”, afirma Olivieri.
IMPACTO NO BOLSO – Os especialistas destacam que é comum que muita gente não consiga enxergar a queda da inflação. Conforme Sales, isso ocorre porque a maior redução se dá nos custos dos alimentos in natura e, quando se vai ao supermercado, boa parte dos itens consumidos é industrializada. Ele destaca que a cesta de produtos elaborada pelo IBGE considera o valor da renda de famílias que vivem com um a 40 salários mínimos (R$ 954 a R$ 38.160). Com a gama de itens, que varia de produtos congelados a frutas, fica a cargo de cada um definir a sua própria inflação. “Por exemplo, a variação do preço da banana impacta mais do que o da lasanha congelada, já que está na lista de compras de mais brasileiros”, explica. Significa também que, ao mesmo tempo, se ela fica mais barata, o impacto não é tão grande, já que seu valor agregado é menor, a não ser para as famílias com menor poder aquisitivo, que concentram seus gastos nos alimentos.
“Você não sente a redução diretamente porque essa variação de preços é mais sentida no atacado, e acaba sendo repassada ao varejo só no futuro. As quedas de preços não são repassadas na mesma proporção”, completa Olivieri.
Em 2017, a inflação só não ficou menor porque houve aumentos em diversos produtos e serviços, como medicamentos, que subiram acima de 4%, plano de saúde, gasolina, gás de botijão, taxa de água e esgoto e energia elétrica, que variaram acima de 10%, pondera o gerente de pesquisa do IBGE, Fernando Gonçalves.
POUPANÇA – Com o resultado do IPCA, a poupança ganha vantagem frente a outras aplicações de renda fixa corrigidas pela inflação ou pela Selic, também em queda e, hoje, em 7% ao ano. A caderneta está rendendo em torno de 6% ao ano, mas não tem Imposto de Renda nem taxas administrativas. “Quando a inflação está baixa, tende a reduzir a taxa Selic, logo o rendimento da renda fixa fica menor”, afirma Sales.