O preço da gasolina no Grande ABC chegou à média de R$ 3,97 neste início de ano, mas já pode ser encontrado acima de R$ 4 em diversos postos. Esse patamar, que nunca tinha sido atingido antes na região, é explicado pela política de reajustes de preços do combustível da Petrobras, que desde meados do ano passado passou a balizar o valor conforme o custo do petróleo, o que é influenciado por questões geopolíticas internacionais. Desde julho, quando a gasolina custava R$ 3,31, o litro encareceu 20%, equivalentes a R$ 0,66. Mesmo com o preço nas alturas, o abastecimento com gasolina ainda é mais vantajoso do que com o etanol, que tem valor médio de R$ 2,86.
Os dados foram disponibilizados pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), que considera estabelecimentos comerciais que emitiram notas fiscais em seis cidades da região, ao longo da última semana. O valor do combustível pode variar 1,73%, sendo que a cidade com a maior média de preços é São Caetano (R$ 4,04) e, a menor, Santo André (R$ 3,97).
O consumidor, no entanto, fica sem saída, já que o etanol, que não faz parte dessa política de preços da Petrobras, subiu mais que a gasolina: 26%. Os valores nas bombas da região saltaram de R$ 2,27 para R$ 2,86 – incremento de R$ 0,59. Para que o abastecimento com o álcool fosse vantajoso, pelo fato de durar menos, ele precisaria custar até R$ 2,77, ou seja, 70% do valor do derivado do petróleo.
No entanto, o que se tem visto é a preferência pelo que pesa menos no bolso, segundo frentista que pediu para não ser identificado. Para se ter ideia, encher o tanque de 50 litros com gasolina a R$ 4 custa R$ 200 e R$ 140 com etanol a R$ 2,91 – 30% menos. “Apesar de render menos, ainda estamos em crise, e eu recomendo o etanol a quem quer economizar. Não é o ideal, mas é o mais viável.”
Conforme a especialista e pesquisadora da FGV (Fundação Getulio Vargas) Energia Fernanda Delgado, a alta do preço da gasolina influencia no valor do etanol por conta do crescimento da procura por uma alternativa mais econômica. “Esse é um cenário que se refletiu no País inteiro. Com a alta da gasolina, o consumidor busca por outros combustíveis, o que aumenta a demanda e joga o preço lá para cima. Muitas vezes, o etanol não compensa para todos os tipos de motores. No entanto, ele é mais recomendado para quem vai fazer entregas e anda na estrada, sem muitas paradas durante o dia, ao contrário do que acontece nos centros urbanos por conta de semáforos e trânsito”, afirmou.
A explicação para a constante alta nos preços da gasolina, que leva na esteira o etanol, é o cenário de tensões no Oriente Médio e até mesmo eventos climáticos no Golfo do México. “No fim do ano passado, a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) decidiu fazer corte de produção, o que enxugou a quantidade de petróleo produzido e pressionou os preços para cima. Outra questão é o processo de abertura de capital da Saudi Aramco (maior petroleira estatal do mundo), cenário em que é interessante que as commodities estejam mais caras, para mostrar a valorização do negócio. O mercado está com essa tendência de inflação, o que deve seguir nos próximos meses.”
Anteriormente, os preços eram fixados pela estatal brasileira, que afirmava que o valor do barril acabava represado. “Esta política vai na linha de vários países, o que, a longo prazo, pode refletir nos investimentos do setor no País, apesar de não estar sendo vantajosa para o consumidor no momento”, avalia Fernanda.
POSTOS DE GASOLINA – Para proprietários dos postos de gasolina, as altas também trazem problemas à manutenção dos espaços. Proprietário de rede que engloba seis postos em Santo André, Eugênio Bianchi demitiu oito funcionários ao longo de 2017. Segundo ele, que trabalha no ramo há 15 anos, é a primeira vez em que os preços chegam na casa dos R$ 4. “Nunca vi a situação assim. É o pior cenário que já vivemos no setor. Não vale mais a pena abrir posto, e acredito que se continuar assim, muitos vão fechar. Muitas vezes, a gente represa os centavos para não repassar o valor para o consumidor, mas atualmente não tem como.”
Bianchi também afirma que seu lucro atual, de cerca de 11%, é longe dos 16% habituais, já que o consumidor também diminuiu a quantidade abastecida. “O mais difícil é ter planejamento, porque cada vez é um reajuste diferente.”