Fiel representante da cultura popular brasileira, a obra Samba (foto ao lado), assinada por Di Cavalcante (1897-1976) em 1927, ficou mais de oito décadas longe do Brasil. Chegou a ser dada como desaparecida até. Mas ela foi, na verdade, adquirida por volta de 1930 por um diplomata mexicano e reapareceu ao público brasileiro em 2015, durante uma exposição no Rio de Janeiro. Por sua beleza e importância, não tem como deixar passar a oportunidade de vê-la.
Ela e outras tantas promovem mergulho no modernismo brasileiro promovido pelas obras de Di Cavalcanti, que foi muito mais do que um pintor, mas também um crítico, ativista político e cultural. Ele tem boa parte de seu legado revisitado na exposição especial No Subúrbio da Modernidade – Di Cavalcanti 120 Anos. Em cartaz desde setembro, a mostra ganha prorrogação e pode ser apreciada até dia 29 na Pinacoteca de São Paulo.
O público poderá ver mais de 200 peças, entre pinturas, desenhos e ilustrações, resultado de quase seis décadas de trabalho do artista carioca, que chegou a produzir, no total, mais de 5.400 obras.
O material apresentado agora foi pincelado cuidadosamente de 67 coleções. Segundo José Augusto Ribeiro, pesquisador e curador da projeto, são peças de coleções públicas e particulares, do Brasil e Exterior. “É a maior mostra de Di Cavalcanti desde 1971, quando houve uma exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Nessa época ele estava vivo e acompanhou o trabalho, que reuniu cerca de 500 obras. O que estava disponível entrou”, explica.
A mostra, agora, apresenta recorte que permite acompanhar a evolução do artista. Desde capas de revista da década de 1910 até peças dos anos 1970. “É uma reavaliação crítica do trabalho dele.” Segundo o curador, a exposição investiga como Di Cavalcanti desenvolve a ideia de arte moderna brasileira, além de narrar o sentimento de atraso nacional em relação à modernidade da Europa no começo do século 20.
Mas não é só isso, Di Cavalcanti vai além. “Ele foi o artista do modernismo brasileiro que mais representou o negro”, explica Ribeiro. Fato que pode ser visto em telas como Devaneio (1927) e Mulata com Papagaio (1937), entre outras.
A mulher também foi muito retratada por ele. “Quando falamos em representação ética e de gênero, achamos importante rever a obra de Di Cavalcanti’, diz o curador, principalmente para “ver o que o Brasil conseguiu, de lá para cá, para a representação do negro e da mulher na sociedade. A seleção de obras levou tudo isso em consideração na hora da escolha”.
Ribeiro explica ainda que o trabalho de Di Cavalcanti é bastante variado. “Ele tem liberdade na escolha dos temas do que quer pintar.” O artista passeia livremente pela cidade. “Há cabaré, prostituição, uma vida cheia de liberdade, boêmia”, afirma o curador.
Ribeiro explica que, pelo fato de Di Cavalcanti ter sido autodidata e ter começado como ilustrador, várias soluções em suas peças vieram do desenho. “Muito da modernidade de seu legado vem dessa experimentação com desenho, na caricatura. É um dos fatores que vão gerar obra com visualidade popular.” A isso, segundo ele, combina-se o fato de o artista se interessar por locais como o subúrbio carioca, prostíbulos, favelas, morros, becos e a zona portuária.
No Subúrbio da Modernidade – Di Cavalcanti 120 anos – Exposição. Na Pinacoteca de São Paulo – Praça da Luz, 2. Tel.: 3324-1000. Até dia 29. De quarta a segunda-feira, das 10h às 17h30. Ingr.: R$ 3 e R$ 6.