A vida de Daniel Melim no universo das artes plásticas sempre foi de batalha. E segue. Artista de São Bernardo, deixou sua marca registrada várias vezes nas ruas de cidades como São Paulo e Londres, além do Grande ABC, é claro. Um de seus mais emblemáticos registros é o Mural da Luz, realizado em 2011 perto da Pinacoteca de São Paulo e feito com spray, tinta acrílica e estêncil. Da região ganhou a Capital e, então, o mundo.
E é por conta dessa luta diária que ele, agora, aos 38 anos, ganha sua primeira mostra individual fora do Brasil. Melim, que já está na Europa e de forma independente, com recursos próprios, estreia a exposição Rouge em Hamburgo, na Alemanha, com abertura marcada para quinta-feira e que segue em cartaz até 24 de fevereiro na galeria LKB/G. Formado em Educação Artística e pós-graduado em Linguagens Visuais, o artista é representado em São Paulo pela Choque Cultural e realiza trabalhos no Grande ABC com a OMA Galeria, de São Bernardo.
Melim começou pintando nas ruas – trabalho que ainda faz –, com grafites, abriu seu leque de um tempo para cá e aposta também em telas. E é isso o que ele leva agora na bagagem para europeu ver de perto. “É uma produção específica para essa exposição. Como é uma mostra individual, é legal pensar algo para ela”, explica. Com relação ao material, ele optou por pinturas com tinta acrílico e spray. “Uso estêncil também, uma das minhas principais ferramentas. Pintei também em linho.”
Para a mostra, o artista optou por debate importante em seus trabalhos, que é a percepção de como as mulheres são vistas e tratadas no mundo, de forma geral. “Falo de como elas estão na sociedade hoje. E nas minhas obras tem a mulher que as pessoas identificam pelo clichê, aquela pessoa bonita. Mas sempre estão, no meu trabalho, com expressão de medo, de choro. Reflete a beleza estereotipada e também que as pessoas, no fundo, não percebem o que há por de trás delas, o que essas pessoas passam, de fato”, explica. “Sou cercado por mulheres geniais, na família e amigas, e falar delas é algo recorrente para mim.”
Além das telas, Melim apresentará gravuras, prints, obras em papel, e fará ainda uma instalação na parede da galeria alemã. Ele diz que essa parte será uma referência à arte urbana. E é esse tipo de linguagem que, segundo ele, o fez ganhar os holofotes. “Na Europa sou mais conhecido pelos murais do que pelas telas”, diz.
Ele acredita que os murais trazem reconhecimento maior, pois atingem mais pessoas. “Como tenho relação próxima do mural com as telas, as pessoas já sabem que é uma obra de Daniel Melim. E isso é muito bacana, criar identidade par a obra”, explica. Tanto que uma vez, em uma de suas idas a Londres, estava criando pinturas espontâneas pelas ruas e “as pessoas tiraram fotos e me marcaram, sem mesmo ter minha assinatura na obra. Chegar nesse ponto é algo muito legal”, diz.
Melim aproveita a viagem para, na Inglaterra, apresentar prévia de livro que lançará este ano. “É um catálogo com minhas principais obras. Tem curadores de arte lá que estão produzindo alguns textos.”