Desorientação espacial e mau tempo provocaram queda de avião de Teori, diz Cenipa

Desorientação do piloto por conta da atuação da gravidade, no momento da forte curva feita na manobra no momento do choque, que provocou desorientação espacial, e as condições meteorológicas adversas foram os dois principais fatores contribuintes para o acidente ocorrido em Paraty, em 19 de janeiro do ano passado, provocando a morte do ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki e mais quatro pessoas. A informação foi prestada pelo coronel Marcelo Moreno, responsável pela investigação conduzida pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

De acordo com o coronel Moreno, não houve qualquer indício de sabotagem da aeronave, como chegou a ser levantado anteriormente. “Em casos de indício de crime, o Cenipa interrompe a investigação e repassa as informações à Polícia Federal”, informou ele, acrescentando que “os elementos da investigação não sustentaram indício de interferência ilícita”. Disse ainda que a PF chegou à mesma conclusão.

Segundo o coronel Moreno, o piloto desligou o GPWS durante o primeiro procedimento de descida, o que contraria a recomendação do fabricante. Este desligamento do aviso sonoro impediu que ele tivesse outro alerta de sua baixa altura no momento da segunda tentativa de pouso, quando o avião se chocou com a água.

Ao falar das características do piloto, que de acordo com a investigação mostrou-se que era considerado “muito experiente” e uma “referência” na região, pelo número de pousos e decolagens realizados com sucesso, na área, o coronel Moreno explicou que “a familiarização com a região, pode ter conferido, confiança mais elevada ao piloto, na hora do pouso”.

O coronel Moreno falou ainda que “é possível que, ao longo de sua trajetória profissional, o piloto tenha desenvolvido comportamentos de pressão autoimposta”. Esse tipo de pressão, de acordo com o militar, foi relatado por vários outros pilotos que voam na região, que se viam obrigados a realizar viagens e fazer pousos e decolagens, mesmo em condições adversas de clima.

Sobre as condições climáticas, o relatório final informou que, quando o piloto decolou do campo de Marte, em São Paulo, às 13h01, já havia indicações de que as condições climáticas, apesar de boas, naquele momento, poderiam piorar. O coronel Moreno lembrou que o aeroporto de Paraty não permite pouso por instrumentos e que “é obrigação dos pilotos”, ao se depararem com tempo ruim, verificarem as condições do tempo, disponíveis no sistema, e respeitar os níveis meteorológicos estabelecidos”. A visibilidade no momento do impacto era de 1.500 metros, muito abaixo da regra, que era de 5 mil metros. “No momento do acidente, não havia condições mínimas de visibilidade no aeroporto de Paraty e o campo visual do piloto estava restrito.”

Por conta do acidente, a Força Aérea emitiu duas recomendações à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Que se divulgue os ensinamento do acidente, para que haja “fomento a uma cultura da avião executiva de que requisitos mínimos de operação sejam valorizados”. Sugeriu ainda que sejam revisados “requisitos existentes, a fim de enfatizar, durante formação do piloto, as características e os riscos decorrentes das ilusões e desorientação espacial para a atividade aérea”.

O piloto fez duas tentativas de pouso, batendo com a asa direita na água, na segunda, provocando o acidente com morte de todos, por traumatismo craniano. Inclusive a mulher que chegou a tentar ser salva depois, morreu pelo mesmo motivo, conforme atestou o IML. Quando fez a primeira arremetida, para esperar melhoria das condições climáticas, o piloto deveria ter esperado quatro minutos para repetir o prosseguimento, se respeitasse o procedimento padrão. No entanto, ele não seguiu também esta recomendação e tentou novo pouso, que resultou na tragédia, 2 minutos e 10 segundos depois.

Foi detectada apreensão e estresse do piloto, por parte dos investigadores. Na avião executiva, conforme relato dos investigadores, é muito comum a pressão por realização dos voos, naquela região no momento desejado, ignorando-se as regras obrigatórias de segurança.