Em abril, vai fazer 23 anos que Malhação estreou na Globo. Na primeira temporada, a história acontecia em academia e tinha como protagonistas Héricles e Isabella. Mas os capítulos não foram preenchidos apenas pelo romantismo do casal. Criado por Andréa Maltarolli e Emanuel Jacobina, desde o início o folhetim adolescente tem a missão de falar com os jovens e tratar de temas que fazem parte da vida deles. Racismo, gravidez na adolescência, uso de anabolizantes, relacionamento familiar e Aids já estiveram presentes na trama de estreia. Desde então, foram 24 temporadas divididas em sete gerações, cada uma composta por historicas com cenário principal.
Em maio, completa um ano que Viva a Diferença entrou no ar. Agora, em vez de um casal e um vilão, cinco meninas dividem o protagonismo: Tina (Ana Hikari), Keyla (Gabriela Medvedovski), Lica (Manoela Aliperti), Ellen (Heslaine Vieira) e Benê (Daphne Bozaski).
O cineasta, roteirista e produtor Cao Hamburguer – criador de O Castelo Rá-Tim-Bum, que passou na TV Cultura de 1994 a 1997 – foi quem assumiu a responsabilidade de trazer a realidade desta geração para a televisão. “Escolhi o tema (Viver a Diferença) justamente porque saber respeitar e valorizar as diferenças étnicas, culturais, religiosas, políticas, de orientação sexual, entre outras, é um atributo que devemos sempre buscar, principalmente em um País tão violento como o nosso”, explica ao Diário.
E para cumprir tal tarefa, Hamburguer mergulhou, mais uma vez, no universo do qual está tratando. Entre os assuntos, o que mais está repercutindo é a questão da sexualidade. As atrizes Manoela Aliperti (Lica) e a mauaense Giovanna Grigio (Samantha) – que viveu Mili, da novela Chiquitas do SBT – estão interpretando romance lésbico. Já o ator Luis Galves faz personagem gay, o Gabriel.
“Minha preocupação com essas histórias foi a mesma com as outras tramas da novela: procurei leveza, emoção e delicadeza. O universo adolescente é quase que por definição um período de experimentação, escolhas e descobertas que antecedem a vida adulta. As questões sexuais, afetivas e amorosas não poderiam ficar de fora”, reforça o diretor, que comenta a polêmica da cena de beijo entre as duas, que foi ao ar no fim de dezembro: “Os diretores e o elenco entenderam a proposta. A repercussão positiva, no meu entender, vem daí”. Hamburguer adianta que o folhetim – já em sua reta final – deve abordar ainda as fake news (notícias falsas) e a importância do ensino público de qualidade para o Brasil.
ATRIZ COMEMORA REPERCUSSÃO
Giovanna Grigio, 20 anos, de Mauá, está amando Samantha, principalmente, por ela ser “real” e “muito consciente de certos preconceitos e problemas da sociedade, mas que ainda erra em outras questões”. Depois de viver o papel de Mili, ela acredita que fazer a polêmica personagem em Malhação foi grande passo para a carreira. “Está sendo aprendizado incrível. Estou tendo contato com ótimos atores, com quem aprendo todos os dias e, como humano, estou lidando com assuntos que antes não faziam parte da minha vida, mas que são importantes”, diz ao Diário.
Sobre o beijo lésbico, Giovanna ficou feliz com o feedback. “Recebi mensagens muito lindas, agradecendo por essas cenas estarem indo ao ar e podendo abrir portas para esse diálogo. Tivemos muito cuidado nas gravações, nosso diretor Paulo Silvestrini cuidou de cada detalhe com carinho e a Manu (Manoela Aliperti) é uma parceira de cena maravilhosa. Estou orgulhosa”, revela.
A artista acredita ainda que Cao Hamburguer acerta em cheio ao escrever as histórias. “Estamos falando do jovem real, de como ele é, das qualidades e defeitos. Estamos falando da nossa sociedade, dos problemas que vivemos todos os dias, das lutas que temos que enfrentar, das formas de melhorar vidas. Esse trabalho tem uma importância sem tamanho, para quem está fazendo e para quem está assistindo”, diz Giovanna, que deve, após as gravações, tirar férias, viajar um pouco e estudar.