O primeiro dia de campanha de vacinação contra a febre amarela em todo o Estado, inclusive nas sete cidades do Grande ABC, repetiu o cenário de longas filas nas portas das unidades de Saúde, principalmente nas áreas centrais. Apesar da intensa procura pela imunização, não foram registrados tumultos, já que, diferentemente do que vinha acontecendo, não houve necessidade de madrugar para conseguir senha que dava direito à proteção. Em cinco cidades (Santo André, São Bernardo, São Caetano, Mauá e Ribeirão Pires), foram aplicadas 69 mil doses. A meta é atingir 2,3 milhões de moradores das sete cidades até o dia 17 de fevereiro – 84,7% da população.
A equipe do Diário percorreu UBSs (Unidades Básicas de Saúde) pela região e constatou que e espera pela vacina durava, em média, 50 minutos. Além disso, por conta do feriado na Capital e também pelo fato de moradores de São Paulo terem de aguardar senha que será entregue em casa para conseguir a vacina, muitos optaram por procurar postos de Saúde do Grande ABC.
A analista Juliana Alencar, 23 anos, destaca que a imunização é necessária para que possa passar o Carnaval em Belo Horizonte. A moradora da Vila São Pedro, em São Bernardo, chegou às 5h50 à UBS. “Vou viajar tranquila e imunizada. Já tentei tomar antes e não consegui.”
Na UBS Vila Dayse, no Parque São Diogo, também em São Bernardo, o analista fiscal Alex Ribeiro, 32, procurava orientação sobre a possibilidade de o pai, idoso, receber a dose, “Ele teve câncer e estamos na dúvida se pode ou não vacinar”, comenta. Nestes casos, agentes de Saúde estão ajudavam a esclarecer dúvidas.
No Centro de Saúde Dr. Manoel Augusto Pirajá da Silva, no Centro de São Caetano, 150 pessoas foram vacinadas até 10h. O coordenador administrativo do posto, João Fábio, afirma que as perguntas mais frequentes são relacionadas à origem daqueles que desejam se vacinar. Esse foi o caso da auxiliar administrativa Renata da Silva Lima, 41, que é de São Paulo.“É feriado lá e aproveitei para vir aqui saber se posso receber a vacina. Os postos perto da minha casa não funcionam hoje.”
Na UBS Zaíra II, em Mauá, a vacinação foi dividida em três salas: uma destinada a crianças de 9 meses à 2 anos, outra para crianças de 2 anos até adultos de 59 anos e, a última, para pessoas com idade a partir de 60 anos. “Tenho medo das reações, mas ficamos sem saber o que fazer. Se não toma, corre risco. Se toma, tem reação. Melhor prevenir e tomar”, acredita a moradora do Zaíra III, Michelle Ribeiro Diniz, 31.
Professor de Infectologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Juvencio Duailibe Furtado, destaca, entretanto, que manifestações graves pós vacinais ocorrem em um a cada 500 mil vacinados. “Todos, incluindo as crianças, devem tomar a vacina”, aconselha.
Hélio Krakauer, pediatra do Hospital e Maternidade Dr.Christóvão da Gama, reitera que a imunização é necessária. “Temos um surto. Proteger ou correr o risco de contrair febre amarela? Prefiro proteger”, afirma.
Eficácia de dose fracionada causa dúvida
Embora a vacinação contra febre amarela tenha sido o tema mais falado nas últimas semanas, a população ainda tem dúvidas em relação à eficácia das doses fracionadas e qual público necessita de laudo médico para ser imunizado.
Na UBS (Unidade Básica de Saúde) Vila Luzita, em Santo André, a estudante Débora Matioli, 29 anos, procurava saber se o pai, João Matioli, 59, poderia tomar a vacina sem laudo médico. “Ainda tenho receio de tomar a vacina, pois não sei se, de fato, a dose fracionada funciona. Mesmo assim, prefiro acreditar que estarei protegida. Os médicos dizem que a eficácia é comprovada e que dura oito anos. Espero que sim”, diz a estudante.
Idosos com mais de 60 anos devem procurar orientação médica antes de se vacinar e, de acordo com cada caso, a dose é indicada por meio de laudo. Como medida preventiva, idosos sem a prescrição médica são impedidos de receber a imunização nos postos de Saúde.
Além dos idosos, pessoas que têm doenças crônicas e alergias precisam apresentar prescrição médica para conseguir a imunização.
Segundo o patologista da SBP (Sociedade Brasileira de Patologia), Juarez Quaresma, a vacina fracionada é eficaz e recomendada. “O ideal é que toda a população seja imunizada, assim conseguimos bloqueio do vírus.”
A dona de casa Valdelice Araujo, 66, foi orientada por agentes do posto de Saúde Vila Dayse, em São Bernardo, a passar em consulta com o clínico geral para verificar a possibilidade de tomar a vacina. “Vim aqui pegar meu remédio e vi essa fila. Já que estou aqui aproveitei para ver se posso me vacinar”, conta. Já a doméstica aposentada Maria Cabrera Lopes, 80, já estava com o laudo médico em mãos e recebeu a dose no US Central, em São Caetano.
Brasil deve dobrar oferta de vacinas a partir de junho
(do Estadão Conteúdo)
A oferta de vacina contra febre amarela deverá dobrar no Brasil a partir de junho, informou, ontem, o ministro da Saúde, Ricardo Barros. A previsão é a de que dentro de cinco meses estejam no mercado as doses produzidas pela parceira de Biomanguinhos e a empresa Libbs, em São Paulo.
Os imunizantes estão em produção em fábrica da empresa localizada na cidade de Embu das Artes, mas somente poderão ser liberados após certificação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Visita está marcada para março. Com isso, a produção mensal de vacina de febre amarela passará de 4 milhões para 8 milhões mensais. A entrada em funcionamento, no entanto está atrasada. Ano passado, a previsão era a de que os imunizantes estivessem disponíveis para uso em dezembro.
Questionado se o fracionamento de vacina contra febre amarela – que começou ontem em campanhas realizadas nos Estados de São Paulo e Rio e, dentro de alguns dias, na Bahia – havia chegado para ficar, Barros respondeu. “Não acho nada”. E em emendou: “Depende do que ocorrer. Se um macaco morrer numa região onde vivem 2 milhões de habitantes, vamos vacinar 2 milhões de habitantes. Se morrer numa região com 3 milhões, vacinaremos 3 milhões de pessoas.”
Surto deixa 162 cidades de MG em estado de emergência
(do Estadão Conteúdo)
O governo de Minas Gerais aumentou de 94 para 162 o número de municípios em estado de emergência por causa da febre amarela. A decisão foi publicada na edição de ontem do Diário Oficial de Minas Gerais.
Os 68 novos municípios incluídos na área colocada em estado de emergência pertencem às regionais de Saúde de Juiz de Fora (37 municípios) e Barbacena (31), na Zona da Mata. Em decreto publicado no Diário Oficial do dia 20, 94 prefeituras haviam sido colocadas nessa situação.
Os municípios que já estavam em estado de emergência pertencem às regionais de Saúde de Belo Horizonte (39 municípios), Itabira (25), na região central, e Ponte Nova (30), também na Zona da Mata.
De julho de 2017 até agora, 25 pessoas morreram em Minas Gerais por conta da febre amarela. Desse total, cinco óbitos ocorreram na Zona da Mata. A região mais atingida pela doença é a Grande Belo Horizonte, com 16 mortes.
A decretação do estado de emergência, que vale por 180 dias, permite a dispensa de licitação para compra de medicamentos e contratação de serviços para o combate à febre amarela. Minas Gerais tem 853 municípios e 18,9% do Estado foi colocado em emergência.