Grande ABC tem melhor saldo de emprego formal desde 2014

Em 2017, o Grande ABC perdeu 2.791 postos de trabalho com carteira assinada. Apesar do número negativo, o resultado é o melhor desde 2014, quando o ritmo de demissões começou a acelerar na região, conforme dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), divulgados ontem. Em 2016, o saldo (contratações menos dispensas) estava negativo em 31.601 profissionais.

Para se ter ideia da diferença dos cenários do emprego na região entre um ano e outro, em 2017 houve o equivalente a sete demissões por dia, enquanto que, em 2016, o ritmo atingiu média de 86 cortes diários. Ao longo dos quatro anos consecutivos de demissões, houve a perda de 92.375 postos de trabalho, sendo o ápice em 2015, com 43.614 cortes.

Para especialistas, os números mostram sinais da retomada gradual da economia e da recuperação da própria indústria que, ainda assim, é responsável pelo maior número de demissões, que somaram 4.340 no ano. Porém, o saldo também é melhor do que o registro do setor em 2016, quando o saldo ficou negativo em 15.808 vagas, quantidade quase quatro vezes maior.

“Certamente estamos assistindo, ainda que de maneira um tanto tímida, à retomada da economia e, paulatinamente, do mercado de trabalho. Nos últimos anos, estávamos enfrentando uma recessão muito severa, particularmente em relação à indústria. E quando você fala em cidades onde a indústria automobilística é decisiva para a economia regional, a recessão se mostra na destruição de postos de trabalho”, avaliou o economista e professor dos MBAs da FGV (Fundação Getulio Vargas) Mauro Rochlin.

Uma demonstração do impacto do desempenho ainda fraco do emprego nas indústrias é que a cidade que mais perdeu postos de trabalho foi São Bernardo, com 1.803 demissões. Diadema veio em seguida, com 1.750 cortes.

Para o diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) Diadema, Anuar Dequech Junior, a melhora no cenário da indústria ainda não refletiu na contratação de operários. “O setor demitiu sim no ano passado e ainda está em uma situação bastante complicada, gerando desemprego, mas num ritmo mais lento. Mesmo com a economia um pouco melhor, a preferência das fábricas, em um primeiro momento, é por aumentar horas extras, até mesmo para ter mais segurança e verificar se a retomada irá se consolidar.”

REAÇÃO – Apenas duas cidades do Grande ABC fecharam 2017 com saldo positivo para o emprego formal: Santo André, com 1.181 contratações, e São Caetano, com 508. Conforme o superintendente geral do Instituto Mauá de Tecnologia, Francisco Olivieri, os municípios não são tão dependentes da indústria automobilística e tiveram o saldo positivo puxado principalmente pelos setores de comércio e serviços, que foram os únicos que fecharam o ano no azul.

No comércio houve 1.128 admissões e, nos serviços, 1.420 contratações. Já o setor de construção civil demitiu 951 pessoas. “O Caged mostra que a recuperação está acontecendo principalmente em serviços e comércio. Isso porque o investimento para contratar é menor, já que a mão de obra necessária é menos qualificada do que a da indústria, por exemplo. Outro fator é que, ao voltar a consumir, a população opta por bens não duráveis, a exemplo de alimentação e cabeleireiro, e duráveis de menor valor, como vestuário. Só depois vai reativar a compra dos duráveis de maior valor, como carro e imóvel”, ilustrou Olivieri.

Para Rochlin, a queda na inflação em 2017, que, conforme o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), ficou em 2,95%, menor índice em 19 anos, é a principal responsável pelo impulso nos dois setores. “Foi o que mais ajudou as famílias. Se ela se mantiver baixa, vai continuar a refletir no consumo”, avaliou.


Projeção para 2018 é de contratação

Para especialistas, o ano de 2018 deve apresentar redução no número de desempregados e, consequentemente, um cenário melhor para o mercado de trabalho. A tendência é que, em breve, a indústria do Grande ABC volte a contratar.

“Acredito que ainda neste ano devemos voltar a verificar contratações, mas não significa que o setor deve recuperar tudo o que perdeu. O saldo de empregos ao longo de 2018 vai ser positivo, mas em patamar menor do que em anos anteriores”, analisou o professor dos MBAs da FGV Mauro Rochlin.

O último melhor saldo de admissões foi em 2010, quando o Grande ABC registrou 47.249 vagas, um dos maiores volumes já registrados. “Acredito que, em 2018, a aceleração que vimos no ano passado terá um pouco mais de força. Para voltar ao nível de 2010, porém, acredito que vamos demorar de quatro a cinco anos, o tempo para toda a economia voltar a funcionar”, comentou o superintendente geral do Instituto Mauá de Tecnologia, Francisco Olivieri.

Para ele, as prefeituras também devem criar incentivos para que a região atraia empresas além da indústria de transformação. Um dos exemplos é Joinville, em Santa Catarina, que foi a cidade com maior número de criação de vagas formais em 2017 (5.588) e vem investindo no setor de tecnologia. “Quando falamos em indústrias desse tipo, temos mão de obra qualificada. Por isso, é importante trazer isso para cá e investir mais em treinamento e educação.”