Parte do muro que cerca um condomínio residencial no Jardim Alvorada, em Santo André, foi preenchido, nos últimos anos, por grafite. A iniciativa foi do artista plástico e grafiteiro Leonel de Araújo Limeira, 32 anos, conhecido como Neguim, que mora no local desde que nasceu. Com cerca de 100 metros, trata-se, segundo ele, do maior painel independente da cidade.
Só que, desde 2014, o artista está defendendo, junto aos condôminos, que o desenho – que já contou com participação de artistas de outros Estados e países – seja preservada. “Dediquei 15 anos da minha arte neste muro. Desde 2003 consegui o aval da antiga síndica para pintar ali e faz três anos que mudou o síndico, que está tentando retirar.” Segundo ele, a permissão não foi documentada, mas “sempre teve o apoio dela, tanto com o material quanto com o respeito pela arte”.
Há pouco, foram pintadas em cima dos desenhos algumas faixas brancas com um telefone, oferecendo o espaço para anúncio. “Sempre tive o apoio dos moradores. Mas eles (conselho do condomínio) conseguiram decidir em assembleia alugar para anúncio, porque poucas pessoas participaram da reunião. Sempre demos visibilidade para o espaço, levamos crianças e amigos estrangeiros para pintar lá, ficamos uma semana só naquela pintura, que dá vida ao local. Tentei conversar, mas não tem acordo.”
O síndico Almir Simões dos Santos, que está à frente do condomínio desde 2014, diz que sempre foi autorizada a pintura dos grafites, “mas cedemos apenas alguns espaços para eles, o da rua de cima (Rolândia), onde tem um desenho bonito em 50 metros. A parte da Carijós, vamos reservar para anúncio para trazer rentabilidade ao condomínio e foi uma coisa que os moradores sempre me cobraram. Eles (artistas) acham que são donos de tudo? Tem de ter respeito com as pessoas do condomínio”, diz. Segundo Santos, ele sempre gostou da arte, mas acha que “tem de prevalecer a vontade dos moradores”.
O aluguel mensal do espaço, segundo o vendedor informa ao ligar para o número em questão, seria de R$ 50 por contrato de, no mínimo, três meses, além de R$ 300 pelo quadro (a propaganda). Neguim não concorda em substituir a arte por propaganda, mas admite que não tem o que fazer. “Deixa rolar. Fazer grafite sempre foi uma luta, embora hoje em dia a aceitação esteja até melhor. Tem quem veja como arte moderna, tem quem não ache. Gosto é gosto”, admite o grafiteiro, que já representou o Brasil no México e na Colômbia. Além do muro, o trabalho do artista pode ser contemplado também no espaço cultural Macacolândia Ateliê Shop, recém-inaugurado na Avenida Lino Jardim, em Santo André.