Curtidas, compartilhamentos e mensagens já fazem parte do cotidiano da maioria dos brasileiros. Por conta disso, as estratégias das campanhas eleitorais deste ano passam necessariamente pelo marketing digital e pelo combate às notícias falsas, as chamadas fake news, que ganharam a atenção (veja abaixo) até do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Na visão de especialistas consultados pelo Diário, o domínio das ferramentas disponíveis para se fazer campanha pela internet e o planejamento das ações serão dois ingredientes que farão a diferença.
O marqueteiro digital Marcelo Vitorino, que realiza campanhas neste formato desde 2008, e que em 2016 foi vitorioso na disputa do Rio de Janeiro, quando trabalhou com o prefeito Marcelo Crivella (PRB), destacou que pelo menos três mudanças na lei eleitoral devem ser observadas: a redução do tempo de campanha, que aumenta o período pré-eleitoral, a possibilidade de se publicar conteúdo segmentado no Facebook, o que pode direcionar e impulsionar posts para públicos específicos, e a captação de valores, com doações e venda de produtos.
“A maioria dos candidatos ainda não entendeu o peso da web. Neste ponto deixa de ser campanha política na internet e fica transversal, pois ajuda na mobilização, arrecadação e comunicação. Não estou vendo os candidatos se mexerem nesse sentido e existe um campo amplo de possibilidades”, argumentou Vitorino, que acredita na chance de faltarem profissionais qualificados para as campanhas deste ano.
Outro ponto destacado pelo especialista em marketing digital é que só serão permitidos dois tipos de publicidade por parte das campanhas: o impulsionamento de posts e a compra de palavras-chave no Google para alterar ordem nas buscas. Compra de banners não será permitida.
Para o vereador de Mogi das Cruzes Caio Cunha (PV), a estrutura digital reduz os custos das campanhas e oferece boas oportunidades de sucesso no pleito. “Em 2012, fui eleito a ocupar a última cadeira do Legislativo. Já em 2016, por conta do trabalho realizado, fui o vereador mais votado do Alto Tietê. Nas duas campanhas, utilizamos muito a internet, em especial as redes sociais, para fazer nossa mensagem chegar às pessoas e mobilizá-las em torno de nossas propostas. Em um contexto de campanhas que gastam rios de dinheiro, conseguimos provar que é possível ter campanhas bem-sucedidas, criativas e de baixíssimo custo”, explicou o parlamentar do município da Grande São Paulo.
INFLUÊNCIA
Em pesquisa recente conduzida pelo Instituto Mapa, que comparou os números de seguidores de diversas personalidades em redes sociais, jogadores e ex-jogadores de futebol como Neymar, Kaká e Ronaldinho Gaúcho apresentam um número de fãs muito maior do que políticos e possíveis candidatos.
Para se ter ideia, Neymar atinge mais de 180 milhões de pessoas com seus posts e fotos, enquanto o deputado federal e presidenciável Jair Bolsonaro (PSC-RJ) chega a 6,7 milhões de usuários.
O estudo considerou o nome do apresentador Luciano Huck, que ainda avalia uma possível candidatura, e o artista chega a 42,8 milhões de pessoas na internet.
Para o presidente do instituto, José Nazareno Vieira, o desafio que se coloca para a classe política é converter um número maior de eleitores por meios digitais. “Em uma outra pesquisa que fizemos, em Santa Catarina, obtivemos dois dados interessantes. Um é que 73% das pessoas buscam notícias pela internet e que 53% se sentiriam influenciadas na hora de votar por conteúdos vistos nesse meio. Então é inevitável que as redes sociais tenham influência cada vez maior”, detectou.
Vieira acredita também que os influencers – pessoas que contam com base grande de seguidores – terão papel importante na disputa presidencial. “Na ausência de políticos com expressividade e na carência de lideranças políticas, o processo induz celebridades, que direta ou indiretamente vão acabar emitindo opiniões. Isso, de maneira subliminar, terá algum peso. Ao mesmo tempo, os microinfluenciadores também devem se posicionar e formarão um quadro mais complexo”, explicou o pesquisador.
A pesquisa do Instituto Mapa revelou que movimentos como MBL (Movimento Brasil Livre), Revoltados OnLine, Vem Pra Rua, Avança Brasil e Nas Ruas, somados, apresentam mais de 9 milhões de seguidores, enquanto os cinco principais partidos políticos mais seguidos no País (PMDB, PT, PSDB, PP e PDT), chegam a 8,1 milhões de interações nas redes sociais.
Disseminação de fake news preocupa
A disseminação de notícias falsas, as chamadas fake news, é algo que tem preocupado o meio político, a imprensa e a Justiça. Por conta disso, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) realizou diversas reuniões com empresas, como o Facebook, Google, Twitter e WhatsApp e entidades reguladoras, como o CGI.br (Comitê Gestor da Internet), Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Ministério da Justiça e do MPE (Ministério Público Eleitoral.
A intenção da Corte eleitoral é confeccionar um manual para os juízes e que o material forneça subsídios para a apreciação de demandas jurídicas que envolvam as notícias de caráter duvidoso.
O TSE pode alterar pontos das regras para as eleições até o mês de março e deve acrescentar considerações sobre as redes sociais.
Para o especialista em marketing digital Marcelo Vitorino, o principal ponto a ser discutido é a forma pela qual alguma penalidade seria aplicada. “É preciso definir a territorialidade do ato. Por exemplo, se uma campanha faz uma guerrilha virtual em um país vizinho, quem vai julgar? O TSE ou TRE (Tribunal Regional Eleitoral)? Além disso, vejo que os crimes em ambiente virtual não recebem o agravante que merecem”, comentou.
Vitorino, por outro lado, acredita que é possível traçar estratégias para amenizar os impactos das fake news. “Neste aspecto é importante ter uma militância forte. Cito como exemplo a capa da Veja com o Marcelo Crivella (prefeito do Rio de Janeiro, PRB) preso. Não era um caso de fake news em si, mas entre o tempo em que a imagem foi divulgada e a publicação da revista, consegui fazer um vídeo dele explicando as razões por ter sido preso chegar a 5 milhões de pessoas em 24 horas”, explicou o marqueteiro.
Outro ponto mencionado por ele foi o veto do presidente Michel Temer (MDB) a uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que impedia o anonimato e determinava a suspensão de conteúdos na internet. “A proposta dizia apenas que se alguém colocar alguma calúnia e fosse denunciado, o dono da plataforma teria que exigir CPF ou algo que mostrasse que seria uma pessoa e não robô, caso não entregasse, ficaria suspenso. Perdemos a chance de diminuir em mais de 90% a guerrilha virtual”, considerou Vitorino.
TENTATIVA
A Aner (Associação Nacional de Editores de Revistas) lançou em janeiro uma campanha chamada Revistas. Eu acredito!. A intenção da associação é tentar reforçar a importância dos meios de comunicação tradicionais como fonte de informação.