A autorização dada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no início do mês para o autofinanciamento irrestrito de candidaturas neste ano tende a reproduzir cenário visto na eleição de 2016 no Grande ABC, quando, em média, cada vereador eleito na região empregou 42,5% de recursos do próprio bolso na empreitada eleitoral.
Levantamento feito pelo Diário junto às prestações de conta dos 142 políticos eleitos às Câmaras da região mostra que, dos R$ 6 milhões em receita dos projetos eleitorais, R$ 2,57 milhões foram depósito dos próprios postulantes.
A proporção na corrida legislativa é maior do que a vista nos pleitos ao Executivo das sete cidades. No total, os 50 candidatos a prefeito em 2016 declararam ao TSE ter arrecadado R$ 17,3 milhões, sendo que R$ 3,36 milhões partiram do bolso dos prefeituráveis – a média foi de 19,4%. Entre os sete eleitos, dos R$ 6,72 milhões em receita, R$ 1,2 milhão veio dos próprios candidatos – média de 17,7%.
Segundo o cientista político da FGV (Fundação Getulio Vargas) do Rio de Janeiro Sérgio Praça, a tendência nesta eleição é que os políticos tenham de apelar às próprias contas bancárias para arcar com as campanhas. Porém, o quesito patrimônio não é sinônimo de sucesso automático nas urnas.
“Muitos candidatos, de fato, vão bancar as próprias campanhas. Especialmente aqueles candidatos de partidos menores, cujo volume do Fundo Partidário é menor do que em grandes legendas<CF51> (uma vez que esse fundo leva em consideração o número de deputados). É tendência para esta eleição”, disse. “Mas é difícil dizer que isso vá significar a vitória do candidato. Cada caso é um caso e outros fatores pesam na hora do voto.”
Em 2016, no Grande ABC, 32 dos 142 eleitos empregaram do próprio bolso mais de 70% do volume arrecadado. Sete deles foram responsáveis por 100% do financiamento das empreitadas – os vereadores de Ribeirão Pires Flávio Gomes (PPS), Amaury Dias (PV), Danilo da Casa da Sopa (PSB), Arnaldo Sapateiro (PSB), Edmar Aerocar (PV), além de Bibinho (PSDB) e Maciel da Padaria (MDB), de Rio Grande da Serra.
Outros oito despejaram do próprio bolso mais de 90% da arrecadação das campanhas, casos de João Lessa (PSDB-Ribeirão), Chiquinho do Zaíra (Avante-Mauá), Toninho de Jesus (PMN-Santo André), Professor Betinho (PSDC-Mauá), Manoel Lopes (DEM-Mauá), Edison Parra (PSB-São Caetano), Luiz Alberto (PT-Santo André) e Marcel Munhoz (PPS-São Caetano).
Em números absolutos, o vereador eleito que mais gastou de suas finanças pessoais na campanha foi Professor Betinho. Ao todo, o democrata-cristão despendeu R$ 152,5 mil, dos R$ 159,7 mil arrecadados no projeto eleitoral (95,5%).
Formam o top 10 entre os que mais gastaram o patrimônio, além de Betinho, os parlamentares Marcelo Oliveira (PT-Mauá, com R$ 114,8 mil), Admir Jacomussi (PRP-Mauá, com R$ 108,8 mil), Bete Siraque (PT-Santo André, com R$ 103,4 mil), Parra (com R$ 93,1 mil), Luiz Alberto (com R$ 85,1 mil), Chiquinho do Zaíra (com R$ 70,4 mil), Alemão Duarte (PT-Santo André, com R$ 70 mil), Manoel Lopes (com R$ 68,7 mil) e Cincinato Freire (PDT-Mauá, com R$ 68,5 mil).
A lista regional ainda apresenta auxílio de parentes nas empreitadas eleitorais dos vereadores eleitos. Eduardo Leite (PT), de Santo André, investiu R$ 16,4 mil na campanha. Seu pai, o ex-vereador Antonio Leite (PT), ajudou com mais R$ 10,6 mil. O também andreense Lucas Zacarias (PTB) informou à Justiça Eleitoral que aportou recursos. Mas seu pai, o hoje vice-prefeito e secretário de Manutenção e Serviços Urbanos, Luiz Zacarias (PTB), auxiliou com R$ 1.200.
Dois casos chamam a atenção. O vereador Eduardo Vidoski (PSDB), de São Caetano, declarou não ter despendido verba própria na campanha vitoriosa de 2016. Mas sua mãe, Anita, efetuou doação de R$ 40 mil – a campanha toda consumiu R$ 98,1 mil. Toninho Tavares (PSDB), de São Bernardo, empregou R$ 2.870,48 do próprio bolso. Seu irmão, o ex-vereador José Walter Tavares (PHS), empenhou R$ 32 mil.
Pela resolução do TSE, haverá teto de gastos das candidaturas a presidente da República, aos governos de Estado, ao Senado, à Câmara Federal e às Assembleias Legislativas. No caso dos candidatos a deputado federal, o limite de recursos será de R$ 2,5 milhões. Aos postulantes a uma vaga de deputado estadual, o teto é de R$ 1 milhão.