Reza a lenda que toda pessoa deve plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Para a segunda opção, há um pessoal na Avenida Queirós Filho, 2.690, na Vila Guaraciaba, em Santo André, muito disposto a ajudar. É a Coopacesso (Cooperativa de Trabalho Acesso Cultural Educativo Sustentável Solidária), cujo maior objetivo é tirar da gaveta o sonho de quem quer ter a obra publicada.
O projeto nasceu há três anos em uma conversa de Jerônimo de Almeida Neto (diretor tesoureiro/revisor e responsável pelos registros das obras) com Leonardo José Dutra Campos (diretor-presidente e designer), após sentirem na pele dificuldades para publicar suas obras. Eles faziam parte de um grupo com a mesma necessidade. “Tínhamos insatisfação com editoras grandes, sabe. Elas não dão espaço para novos autores”, explica Neto.
A partir daí, montaram a Coopacesso (www.coopacesso.org) e estão na luta diária. Mas para quem pensa que o trabalho deles é apenas pegar textos e colocar nas páginas, engana-se. Tanto que Campos garante que não há uma pessoa que tenha entrado pela porta deles com a vontade de publicar um livro e tenha saído de lá sem a obra pronta. O interessado pode chegar com o texto e eles darão um jeito no que falta.
Mas a equipe também ajuda quem tem vontade de escrever um livro, mas encontra dificuldade, como aconteceu com a mineira Maria José da Silva. “Ela queria publicar sua história. É uma pessoa que tem deficit de aprendizado. A trouxemos aqui e a filmamos contando sua história. Transcrevemos e lemos dias depois”, conta Campos. E não parou por aí. A autora não podia arcar com as despesas, ainda que não fossem altas. “Fizemos vendas de convites para o lançamento do livro dela com direito a um exemplar para conseguirmos financiar a publicação. O livro se chama Eu Sou o Samba – A Voz e a Vez de Maria José da Silva.”
Emília Vieira de Oliveira também teve sua obra publicada pela Coopacesso. Chão de Estrelas – Minha Pequena Sapucaí, ela conta, foi escrita quando sua mãe estava doente. “Depois, quando ela melhorou, perguntei se havia lido e me disse que estava vendo todos os dias. ‘Meu sonho é que você publique isso’, ela me disse. E foi o que fiz”, conta.
Elaboração de texto, parte final, diagramação. A Coopacesso faz tudo. E vale todo tipo de livro. A única exceção – mas eles cuidam disso também – é a impressão, que é terceirizada, por enquanto. E quem quiser acompanhar todo o passo a passo também pode. “É um diferencial”, diz Neto. A única coisa que a Coopacesso não cuida é a comercialização dos livros. “Entregamos tudo ao autor”, diz Neto.
Como cada caso é um caso, ele diz que os preços são diferentes. Tem gente que chega lá até com a capa pronta, o texto revisado. E tem quem chegue com uma ideia apenas. “Um livro de 100 páginas sai, em média, R$ 15 o exemplar para o autor, com tiragem de 100 cópias. O mínimo que fazemos é 30 exemplares.”
Na cooperativa eles incentivam também pessoas a escreverem. Foi o que aconteceu com Jorge Alberto Carrilo. Ele sentia vontade de escrever, mas nunca havia feito. “Participei de uma oficina de poética e deu vontade. Não escrevia poesias antes”, explica. Em seguida ele participou do projeto da cooperativa batizado Poemas da Cidade, que hoje soma quatro livros com obras dedicadas a Santo André. Maria Aparecida Medeiros Moutinho também está com seu nome lá. Ela não escrevia poesias. Fez oficina de poética no local e não parou de escrever. “Participo dos quatro livros Poemas da Cidade”, afirma.
O diretor tesoureiro da Coopacesso garante que lá tudo é feito direitinho. “É tudo registrado, ISBN (sistema internacional que identifica numericamente os livros de acordo com título, autor, país e editora), ficha catalográfica, indicação de depósito legal na Biblioteca Nacional”. Quem quiser experimentar, é só tentar. Como reafirma Neto, “até hoje ninguém saiu daqui sem publicar seu livro. E temos 25 títulos já”.