Prefeito da Capital e o principal nome do PSDB para disputar o governo do Estado, João Doria defendeu que o tucanato tenha nome próprio na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes em outubro. O prefeito minimizou o fato de o grupo governista poder ir às eleições paulistas dividido, já que o vice-governador Márcio França (PSB) também se coloca como postulante à sucessão do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Em entrevista exclusiva ao Diário, o prefeito paulistano afirmou ser “compreensível” ter dois palanques governistas na eleição deste ano em São Paulo. “Seria o ideal (o grupo governista ir às urnas) num palanque único. Mas se não for, não há problema. É compreensível que se possa ter dois palanques em São Paulo. Acho que cabe a existência de dois palanques, nessas circunstâncias com o PSB, sim, ainda que não fosse o ideal”, afirmou, na contramão do que defende França, que sugere que os tucanos priorizem a eleição de Alckmin à Presidência e abram mão da hegemonia de duas décadas no comando dos Estado.
Doria também falou sobre seu primeiro ano à frente da cidade mais populosa da América Latina. O tucano citou, como principais ações, o Corujão da Saúde, que zerou, segundo ele, fila de 476 mil pessoas que aguardavam para realizar exames de imagem. Na área da Educação, o chefe do Executivo paulistano destacou a criação de 32 mil vagas em creche e a eliminação do deficit de vagas na primeira infância.
O sr. concorda com o vice-governador Márcio França (PSB) que o PSDB tem de priorizar a eleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência e abrir mão de lançar nome próprio ao Palácio dos Bandeirantes para apoiá-lo neste ano?
O PSDB terá candidato próprio ao governo do Estado de São Paulo. Não há nenhuma possibilidade de o PSDB não ter candidato.
O sr. será esse candidato?
Eu não me apresento como candidato, mas como integrante do partido posso afirmar que o PSDB vai ter nome próprio e vai apoiar Geraldo Alckmin para a Presidência da República.
Mas o PSB cobra apoio aqui em São Paulo como condicionante à adesão ao projeto nacional do Alckmin..
O apoio do PSB em níveis local e nacional é bem-vindo para a campanha do governador Geraldo Alckmin, mas não temos um candidato de outro partido em nome do PSDB para disputar o governo do Estado. Não há manifestação contrária ao vice-governador Márcio França. Ele é uma boa pessoa e tem sido um bom vice-governador, um bom parceiro, inclusive, para o município de São Paulo. Temos uma boa aliança com o PSB no município e desejamos mantê-la. Apenas entendemos que o PSDB deve ter seu próprio candidato ao Palácio dos Bandeirantes. E queremos manter uma relação cordial, positiva e construtiva com o PSB. Não há razões para antagonismos nem para afastamentos.
Essa insistência se dá pela hegemonia do partido? Existe essa vaidade?
Pela história do PSDB, pela boa gestão feita pelo governador Geraldo Alckmin. É uma história de 24 anos, na qual o PSDB sucessivamente, ao lançar candidatos, venceu as eleições no Estado e tem candidatos. Portanto, não haveria razão para ter candidato de fora do PSDB. Mas nenhuma contrariedade e nenhuma objeção que outros candidatos disputem o governo do Estado por outras legendas. E, se puder, que apoiem a candidatura de Geraldo Alckmin.
Não seria o ideal ter um palanque único do governo aqui em São Paulo?
Seria o ideal, (o grupo governista ir às urnas) num palanque único. Mas se não for, não há problema. É compreensível que se possa ter dois palanques (governistas) em São Paulo. Acho que cabe a existência de dois palanques, nessas circunstâncias, com o PSB, sim, ainda que não fosse o ideal. Mas vamos respeitar a decisão do vice-governador de disputar a eleição para governador e, se assim ele mantiver essa decisão, será respeitada.
O sr. recebeu algumas críticas por sempre falar que é um gestor e não um político. As avaliações foram injustas?
Nunca rejeitei a política. Eu sou filho da política, meu pai foi deputado federal. Tanto que respeito os políticos, a começar pelo meu pai, que foi deputado federal pelo PDC da Bahia e depois foi exilado pelo golpe militar de 1964. Eu respeito os políticos e respeito a política. O que eu disse e reafirmo é que eu sou um gestor. E, neste momento, sou um gestor na política. Isso é perfeitamente possível.
Em quais áreas seu governo se destacou neste primeiro ano de gestão e quais foram as ações?
O nosso forte foi eficiência de gestão, modernidade e inovação. Esses são os três grandes motes da gestão. Nas áreas específicas de atuação: Saúde, Educação, Habitação, Transporte, Segurança Pública e Assistência Social. Na Saúde, lançamos o programa Corujão da Saúde, que foi um sucesso. Em 83 dias, zeramos fila de 476 mil pessoas que aguardavam para fazer exames de imagem. A fila zerou. E por que zerou? Fizemos convênios com 44 hospitais privados, que passaram a atender pessoas que não eram atendidas pelo setor privado, como Albert Einstein, Sírio-Libanês, Beneficência Portuguesa, Hospital Oswaldo Cruz, HCor, hospitais de ponta e de referência.
Como foi essa parceria?
Nós conveniamos, mostramos aos hospitais que eles podiam utilizar os horários não convencionais das suas salas de exames para fazer os procedimentos e eles receberem (os valores de acordo com a) tabela SUS (Sistema Único de Saúde). Não receberam um centavo a mais. Eles se convenceram que isso é bom, saudável e positivo, além de ser um gesto solidário com a cidade. Foi um sucesso de repercussão nacional. Pessoas que estavam aguardando há dois anos e meio ou três para fazer um exame de imagem. Sem a radiografia ou ultrassonografia, você não tem diagnóstico e, sem ele, você não tem a indicação da cura e o tratamento que você vai adotar. Depois, fizemos também o Corujão da Cirurgia, em que mais de 40 mil cirurgias complexas foram feitas na cidade de São Paulo neste primeiro ano de gestão. Saímos do horário convencional, matinal, para fazer cirurgias à noite, ocupando salas cirúrgicas que estavam desocupadas, não utilizadas. Nós reduzimos muito o deficit, ainda não zeramos, porque é mais complexo, mas reduzimos sensivelmente esse número, que chegava a quase 70 mil. Estamos fazendo isso em bom ritmo.
E sem custo as doações?
Nas doações não teve custo nenhum para a prefeitura.
Por que nenhuma empresa fez doações no passado?
Porque ninguém pediu e eu pedi. Nós consolidamos no ano passado R$ 772 milhões em doações sem nenhuma contrapartida. Foram doações de medicamentos, automóveis, motocicletas, computadores, softwares, materiais escolares, livros, uniformes para a GCM (Guarda Civil Metropolitana), para a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), televisores, mobiliários. Tudo isso representou doações importantes para a cidade dentro do nosso programa de empresas solidárias.
Quais foram as principais ações na área da Educação?
Zeramos o defict de vagas na primeira infância. Nunca houve, na cidade, gestão que estivesse zerado essa fila. Não temos problemas de falta de vagas para crianças no período pós-creche, de 6 anos para cima. Eram mais de 35 mil crianças que estavam fora da Educação. Isso foi possível com a instalação de escolas e ajuste de gestão da oferta de vagas. A segunda vitória foram as creches. Já ultrapassamos 32 mil vagas criadas nesse primeiro ano, contra um número muito reduzido no primeiro ano de gestão do PT. E estamos trabalhando para buscar mais 35 mil vagas até 31 de março, com o objetivo de zerar o deficit da gestão que nos antecedeu.
O deficit habitacional em São Paulo ainda é muito grande. O que a atual gestão fez para melhorar esse cenário?
Fizemos a maior entrega de habitações populares e o maior comprometimento de obras em curso de habitação popular na cidade. Já entregamos 1.904 unidades e até 31 de março a previsão é de concluir as obras de outras 4.509 moradias em seis empreendimentos. Estamos conseguindo fazer essas obras em tempo curto, em regime de PPP (Parceria Público-Privada). Também criamos o Casa da Família, que é entregue com geladeira, fogão e chuveiro elétrico instalados, ou seja, conforto para a população. A pessoas chegam na casa e já têm esses equipamentos instalados. Também estamos verticalizando, entregando edifício com elevador. Por que o pobre tem de subir e descer escada? Por que pessoas de idade, pessoas obesas ou portadoras de deficiência às vezes são obrigadas a subir e descer escada, correndo o risco de acidente? O deficit habitacional ainda está grande, é o maior do País, mas estamos diminuindo essa distância com esforço e maior investimento. É importante dizer que estamos fazendo tudo isso com ajuda dos governos estadual e federal.
O uso da repressão na Cracolândia, no ano passado, foi muito questionado. O sr. concordou com essas críticas?
Tivemos críticas e tivemos elogios também. Mas nós, neste caso, ficamos com os elogios, porque as críticas são infundadas. Lançamos a Operação Redenção, junto com o governo do Estado, polícias Civil e Militar e GCM. Naquele 21 de maio, fizemos uma ação determinante, acabamos naquele dia com 22 anos de ocupação na área da Luz, no Centro. Durante duas décadas havia o domínio do PCC, com venda de entorpecentes 24 horas por dia. A prefeitura não podia nem limpar se não tivesse a autorização do chefe do tráfico presente para fazer a limpeza pública das ruas. Isso acabou, a área está limpa e acessível. Você passa lá a hora que você quiser e, inclusive, não tem nem inscrição do PCC nas paredes. Só naquele dia, prendemos mais de 200 traficantes, apreendemos cerca de 250 armas de pequeno, médio e grosso calibres e mais de 400 quilos de entorpecentes, entre crack, cocaína, êxtase, maconha e outras drogas.
Mas não houve a dispersão dos dependentes para outras áreas do entorno?
Em parte houve. Tínhamos 1.700 dependentes por ali. Hoje temos 400 dependentes. Todos os outros foram atendidos clinicamente. Alguns, inclusive, seguem internados. Essa área foi absolutamente liberada. Não temos mais fisicamente a Cracolândia. Temos os usuários de crack e traficantes, mas numa quantidade bem menor do que existia em maio do ano passado. A ação da prefeitura vai continuar, tem comando, tem ordem e tem determinação. Aqui a gente não tem a menor condescendência com traficantes, seja pequeno médio ou grande. Lugar de traficante é na cadeia.