O coordenador-técnico da seleção brasileira de ginástica, Marcos Goto, falou nesta terça-feira (1º), pela primeira vez, sobre as denúncias de abuso sexual de menores pelo treinador Fernando de Carvalho Lopes. Marcos Goto falou também sobre as acusações de que sabia dos casos e de que era conivente.
O previsto era dar apenas uma declaração sobre as acusações reveladas pelo Fantástico. Sem direito a perguntas. Marcos Goto leu uma nota.
“Sou o treinador mais vitorioso do Brasil. Conhecido pela minha rigidez, profissionalismo e disciplina, em busca dos melhores resultados para o meu país. Fazendo um trabalho de desenvolvimento da modalidade em todas as categorias desde 1990. Conduzindo milhares de crianças e adolescentes sem nenhuma intercorrência negativa neste período. Os fatos narrados nesta matéria, ocorridos há doze anos, como foi dito por vários declarantes, os fatos eram tratados como boatos e podem ter gerado algum tipo de gracejos na época por muito envolvidos na ginástica. Acho leviano o tom da matéria em relação à minha pessoa, onde o principal foco foi esquecido e os verdadeiros responsáveis e omissos estão acobertados. Para finalizar, sou totalmente contrário a qualquer tipo de assédio, discriminação ou intolerância”.
O técnico campeão olímpico de ginástica acabou envolvido no maior escândalo de abuso sexual da história do esporte brasileiro: 40 atletas afirmam que foram abusados pelo ex-treinador da seleção Fernando de Carvalho Lopes.
Contra Marcos Goto não há nenhuma acusação de assédio, mas muitas vítimas afirmam que, quando deixaram São Bernardo do Campo para treinar com Goto em São Caetano, sofreram bullying.
Depois de ler a declaração, Marcos Goto preferiu dar uma entrevista.
“Em primeiro lugar, boatos não são fatos. Então, os boatos existiam na ginástica. Então assim, para mim pessoalmente nenhum atleta nunca falou. Gracejos sempre fizeram na ginástica, no meio da ginástica. Eu não tenho isso como como uma coisa que eu ou outro falou ou não falou. Então assim, esses gracejos na ginástica existiam realmente. Esses detalhes estão saindo agora. Esses detalhes nunca foram falados”.
Entre 2014 e 2016, Marcos Goto e Fernando de Carvalho Lopes foram treinadores da seleção. Antes da Olimpíada do Rio, Fernando foi afastado do cargo por causa de uma denúncia de abuso sexual. No ano seguinte, Goto assumiu o cargo de coordenador-chefe da seleção. Ele é treinador do campeão olímpico e mundial nas argolas, Arthur Zanetti.
“Alguma vez na ginástica você viu ou passou por isso?”
“Não. Nunca passei. Graças a Deus. Então nessa questão eu estou tranquilo”, disse Zanetti.
“Você já viu alguma vez?”
“Não. É como você falou, né? Tem os boatos que houve de um, de outro, do amigo do amigo. Mas assim, nunca pessoalmente alguém chegou e falou: aconteceu isso comigo”.
A revelação do escândalo provocou consequências imediatas. Fernando de Carvalho Lopes foi afastado do clube onde trabalhava havia 20 anos, o Mesc de São Bernardo. Outras medidas estão sendo tomadas.
Fernando também tem um cargo público na prefeitura de Diadema. Um dia depois das revelações do Fantástico, foi convocada uma reunião de emergência para discutir o assunto e ficou decidido que será aberto um processo administrativo para exonerá-lo.
Em nota, a prefeitura de Diadema diz que “repudia e não pactua com qualquer comportamento que fira a ética”. Em Diadema, ele era o técnico da equipe de ginástica da cidade.