A balança comercial do Grande ABC despencou 67% em comparação com o ano passado. A movimentação de janeiro a setembro de 2018 foi de US$ 355,06 milhões, sendo que no mesmo período de 2017 chegou a US$ 1,1 bilhão, ou seja, diferença de aproximadamente US$ 750 milhões. Fatores como a crise na Argentina, principal parceira comercial da região, e o lento crescimento da economia brasileira influenciam na redução deste número.
Os dados são do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e foram tabulados pelo Diário. Apesar da balança se manter positiva (quando o valor em exportações é superior ao de importações), em comparação com o ano passado, o número de exportações aumentou 5,9%, totalizando US$ 4,13 bilhões. O número é insuficiente considerando as importações, que cresceram em 34,6%, totalizando US$ 3,77 bilhões.
Individualmente, as únicas cidades que tiveram saldo positivo foram São Bernardo, com diferença de US$ 997,37 milhões, e Ribeirão Pires, com US$ 66,17 milhões. As cinco demais apresentaram resultado negativo, ou seja, com maior número de importações.
A Argentina continua como a principal parceira nas exportações da região, mas em comparação com 2017 teve registro de US$ 800 milhões a menos em movimentações. Foi registrado US$ 1,42 bilhão contra US$ 1,5 bilhão no ano passado.
O economista e professor coordenador do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Jefferson José da Conceição, ressaltou que a crise econômica da Argentina tem impacto maior na região do que nacionalmente. Isso por conta do peso do papel do país sul-americano na indústria automotiva (são seis montadoras, sendo que cinco estão localizadas em São Bernardo e uma em São Caetano) na economia do Grande ABC. “A Argentina teve queda em 40% nas compras de produtos do Brasil neste ano. E estamos falando essencialmente de automóveis, autopeças, máquinas tratores, o que impacta diretamente no Grande ABC, que está entre as regiões que deixaram de vender em grande volume”, disse.
O país vizinho, além de sofrer com a desvalorização da moeda local perante ao dólar, também passa por situação econômica interna de instabilidade, tendo que, inclusive, recorrer ao FMI (Fundo Monetário Internacional). Algumas das empresas da região já sentiram estes impactos, como a Volkswagen, que colocou 1.800 trabalhadores da planta de São Bernardo em férias coletivas em outubro para readequar a produção por conta da redução de pedidos dos hermanos.
A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) também revisou as projeções do setor para este ano. A expectativa é que a produção cresça 11,1% (em julho, a previsão era de 11,9%). Em relação às exportações, é esperada queda de 8,6% ante 2017.
Segundo Conceição, isso também explica por que a queda na balança da região é maior do que a prevista no Brasil. “Espera-se uma queda do superavit brasileiro superior a US$ 50 bilhões neste ano. Percentualmente, a queda na região já é maior.”
“A questão da Argentina é uma parte significativa do problema, mas, por outro lado, o aquecimento da economia no País neste ano também foi prejudicado. No primeiro semestre tivemos a greve dos caminhoneiros, o que contribuiu diretamente para o aumento da importações. Muitas empresas viram no mercado externo uma saída”, disse o coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero.