O resultado do segundo turno da corrida presidencial nas sete cidades confirmou máxima de que São Caetano é o município mais conservador da região e Diadema, o mais afeito ao petismo.
O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) venceu em 22 das 23 zonas eleitorais do Grande ABC e, em São Caetano, sua votação ultrapassou a casa dos 70% – na de número 269, que compreende os bairros Barcelona, Nova Gerty e Santa Paula, o índice foi de 75,99%, o maior em toda região.
A única zona que Fernando Haddad (PT) triunfou foi justamente em Diadema, a de número 426, responsável pelos bairros Eldorado, Inamar e Serraria. Essa localidade deu êxito ao petista por 50,7% a 49,3% – ou 29.343 votos a 27.339.
A equipe do Diário, nesta semana, foi aos dois bairros que apresentaram resultados distintos para ouvir eleitores a respeito do pleito e sobre a confirmação da fama de antipetista de São Caetano e de petista de Diadema.
“Eu nunca votei no PT, para nenhum cargo. Nesta última eleição eu votei no Bolsonaro e vou sempre votar contra o PT”, cravou o comerciante Robson Cangane, 45. Segundo Cangane, o PT instaurou mecanismo de corrupção muito grande em seu governo e esse é um dos principais motivos para não votar na legenda. “É minha resposta à corrupção causada pelo partido de Lula. Simplesmente não poderíamos mais escolher este partido”, alegou.
Com a melhor nota de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do País – 0,862 – e com economia bastante desenvolvida – PIB (Produto Interno Bruto) per capita de R$ 78,4 mil (conforme o IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o 45º melhor do Brasil –, a cidade é a única do Grande ABC que nunca teve prefeito do PT e, nesta legislatura, sequer vereador do partido foi eleito. A situação da sigla no município, que nunca foi fácil, se deteriorou em 2012, quando o então candidato petista ao Palácio da Cerâmica, Edgar Nóbrega (hoje no PDT), foi flagrado pedindo dinheiro no escândalo do mensalinho.
“O morador de São Caetano é muito ligado às questões da história da cidade. Eu só voto em quem realmente tem ligação com a cidade. Acho que é por isso que nunca acabo escolhendo candidatos do PT”, discorreu a atendente Berenice Sanchez, 45. Outro motivo que levou Berenice a evitar o PT foi o desejo de mudança. “É bom mudar de vez em quando”. Ela, porém, votou em João Doria (PSDB) para o governo do Estado de São Paulo – eleito, Doria levará o PSDB a ficar 28 anos à frente do Palácio dos Bandeirantes. “Realmente não teve mudança, mas prefiro Doria ao PT”, decretou.
O sentimento antipetista também está explícito na fala do comerciante José Aparecido Soares Afonso, 60. Para ele, o PT tinha sede de poder, por isso nem sempre foi simpático ao partido. “Quem ganhou foi a democracia. O PT tinha sede de ficar no poder e não acredito que isso esteja certo. Hoje, o (ex-presidente Luiz Inácio) Lula (da Silva, PT) está preso e Bolsonaro soube capitalizar todo o contexto antipetista para ele”. Afonso já votou em deputados do PT em tempos atrás, mas se disse arrependido. “Se eu soubesse que tudo isso aconteceria, não teria votado.”
RESISTÊNCIA
Diadema entrou para a história do Brasil ao conferir o primeiro mandato de prefeito a um filiado do PT. Em 1982, o ferramenteiro Gilson Menezes se elegeu ao Paço e deu início à hegemonia de líderes do partido ou criados na sigla no comando da Prefeitura – durou 30 anos e se encerrou em 2012, com a vitória de Lauro Michels (PV).
“Eu voto sempre no PT e sempre votarei. Não tenho vergonha de minha escolha. Não gosto de Bolsonaro e não gostei de suas propostas”, disse a comerciante Nair Rosália de Moura, 52. Moradora de Diadema há mais de 30 anos, ela vende churros em um carrinho que fica na Avenida Antonio Sylvio Cunha Bueno, no Inamar.
No primeiro turno, o candidato do PT ao governo do Estado, Luiz Marinho, foi o mais votado em Diadema. Ex-prefeito de São Bernardo, ele teve 60.066 votos diademenses, superando Doria, que recebeu 44.798. Outra informação que mostra que, em Diadema, o PT ainda sobrevive: a cidade conta com três vereadores filiados à legenda, Josa Queiroz, Ronaldo Lacerda e Orlando Vitoriano.
Apesar de todo esse cenário, a equipe do Diário teve dificuldades de encontrar eleitores petistas que falassem abertamente sobre o tema. “Olha, eu não gostaria de falar sobre política, isso está dando muita dor de cabeça. Eu votei no Haddad, mas não quero falar mais nada”, disse a estudante Fabiana Pereira Alves, 18.
Eleitor de Bolsonaro em Diadema, Thiago Barbosa, 30, traçou comparativos ao discorrer sobre as boas votações petistas no município. “Se analisar bem, esta região é bem parecida com o Nordeste. Acho que é por isso que acabaram votando no candidato do PT. Apesar de tudo, o PT sempre teve um olhar diferenciado para as periferias.”
No Nordeste, Haddad venceu em todos os Estados. Por outro lado, foi superado no Sul e Sudeste por Bolsonaro. Em Diadema, conforme o Censo de 2010, há 90.411 nascidos no Nordeste – 23,4% da população local.
Diadema sofre com alta densidade demográfica, já que há 423,8 mil moradores em 30,7 quilômetros quadrados, e tem buscado melhorar índices econômicos, de qualidade de vida e até mesmo de Segurança Pública. A nota de IDH da cidade é 0,757 e o PIB per capita, R$ 30,3 mil.