Principal parceira comercial da indústria no Brasil, e que atualmente passa por crise econômica, a Argentina vem perdendo espaço nas exportações do Grande ABC. Nos 11 primeiros meses de 2018, o país sul-americano movimentou cerca de US$ 1,584 bilhão em operação nas sete cidades (R$ 6,198 bilhões). O montante é 16,54% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado, quando era de US$ 1,898 bilhão (R$ 7,421 bilhões).
Os dados são do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e foram tabulados pelo Diário. Os números também mostram que a Argentina vem perdendo espaço nas exportações entre as sete cidades, sendo que atualmente permanece como principal parceiro de três – São Bernardo, São Caetano e Mauá.
Em São Bernardo, por exemplo, apesar de se manter como líder com 34% do montante exportado, o que corresponde a US$ 1,32 bilhão de janeiro a novembro de 2018, as operações para os ‘hermanos’ registraram baixa de cerca de US$ 250 milhões em relação ao ano passado. Em 2017, o país era responsável por 43% do total exportado da cidade.
De acordo com o diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo, Mauro Miaguti, a relação comercial com a Argentina vem sendo afetada na cidade. “O volume exportado para o país vem caindo muito. As empresas que apostaram na exportação para a Argentina acabaram saindo muito prejudicadas”, disse.
“As empresas em Diadema vem sentindo (a diminuição da demanda para a Argentina), tanto que estamos buscando outros destinos promissores para a exportação. A Argentina está numa situação muito complicada”, afirmou o diretor do Ciesp na cidade, Anuar Dequech. Em Diadema, o total exportado caiu de US$ 31,57 milhões para US$ 30,45 milhões, em relação a 2017.
Economista e coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero afirma que é essencial buscar outros parceiros para a atividade econômica. “É sempre importante para não ficar dependendo somente da Argentina, que acaba sendo mais suscetível a crises, isso porque ela está há alguns passos atrás do Brasil em relação à estabilização econômica. Nosso País não tem grandes problemas inflacionários, apesar de termos um deficit público alto, avançamos em algumas questões, como a aprovação do teto de gastos. A Argentina tem muitos problemas com inflação e volume de reservas internacionais baixo. Por isso. o câmbio oscila muito e nestes últimos meses a depreciação da moeda foi muito intensa. Outro exemplo, é que o Brasil é credor do FMI (Fundo Monetário Internacional) há dez anos, e a Argentina acabou de pedir socorro ao mesmo. É um país importante, mas que passa por situação complicada. Por isso é prudente diversificar”, analisou.
Saldo da balança comercial da região registra queda de 62%
O saldo da balança comercial – diferença entre exportações e importações – do Grande ABC totalizou US$ 416,86 milhões entre janeiro e novembro deste ano. Apesar de a balança se manter positiva (quando o valor em exportações é superior ao de importações), a diferença em relação ao mesmo período do ano passado é de aproximadamente US$ 683,14 milhões. Em 2017, o número foi de US$ 1,1 bilhão no mesmo período.
Segundo o economista e coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, os dados mostram a influência da crise na Argentina. “É um país extremamente importante para as relações comerciais. Eles passam por uma situação ainda mais acentuada do que o Brasil viveu em 2016 e 2017”, afirmou.
“O governo Bolsonaro também começou ruim neste aspecto, já que está comprando briga com a China e países árabes, que poderiam representar um mercado importante, e está se aproximando dos Estados Unidos, que logo deve entrar em recessão”, concluiu Balistiero.
Segundo ele, a situação ainda deve ser mantida em 2019, já que algumas medidas tomadas pelo governo argentino do presidente Maurício Macri, que precisou recorrer a empréstimo e ao aumento de impostos, devem surtir efeito a longo prazo.
“Tenho impressão de que o pior já passou, mas apesar de estarem em processo de recuperação, a saída da Argentina da crise deve ser mais lenta do que a do Brasil. Ao mesmo tempo, me parece que as políticas vão na direção correta. A Argentina deve continuar a ser um parceiro fundamental, mesmo que perca espaço.”