Na maior parte das vezes, entendemos a vida através de histórias, experiências.
As nossas, as dos outros. Antes de chegar à tocante narrativa que vem a seguir, só gostaria de fazer um pequeno preâmbulo.
Nesses tempos modernos, a concepção de família ganhou contornos diferenciados. Os seus, os meus, os nossos filhos, que a cada 15 dias convivem com a mãe, para depois estar com o pai, e vice-versa. Não raro, tanto um como o outro já formaram outra família. Complicado, não? São as chamadas ‘famílias plurais’, em que as relações entre pais e filhos se tornam mais flexíveis, mas o amor prevalece igual.
Agora imagine uma situação de dispersão familiar provocada por uma grande perda, só que nos distantes anos 1960. Uma mulher de 38 anos, que ja tinha 10 filhos, e que morre no parto da 11ª. O bebê ficou bem. Infelizmente, a matriarca se foi. Ao pai, não restou nada a não ser tentar administrar a vida. E, em comum acordo e repletos de amor, houve uma divisão: os mais velhos cuidariam dos mais novos, o pai ficaria com os mais novos ainda. Existe a solução ideal. Existe a solução possível. O pai não conseguiria trabalhar e cuidar de 11 filhos, um deles recém-nascido.
Em 1970 Elbinha, minha tia, se casou, e quem assumiu o papel de ”mãe” foi Heleninha. Dela escrevo agora com lágrimas e caírem no telhado. Sou filha de Ambrozina Antão Piccagli, seu nome de batismo, Sou filha de Heleninha. Ela me ensinou, inclusive depois do grande choque que foi a perda de meu avô, que a orfandade mostra que nada na vida pode-se considerar já conquistado. Por tudo temos de lutar com bravura e valentia, persistência e teimosia. A vida não se rende em preguiçoso ‘a priori’. Tem que ser buscada com unhas e dentes e toda luta é pequena para conservá-la e readquiri-la a cada suspiro e a cada instante.
Ensinou também que mesmo quando a vida apronta das suas e nos derruba, Deus está lá, para nos amparar. Me ensinou que amor de família é a coisa mais inexplicável do mundo: nem uma mãe consegue dizer para um filho o quanto o ama, neo o filho sabe dizer à mãe, ao pai. Então simplesmente demonstram… A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família. Minha família se mostrou guerreira e nunca perdeu o laço mais importante que existe: o amor.
Infelizmente, minha mãe, minha amiga, minha conselheira Heleninha morreu no dia 03/02/2020. Não pelo laço extremamente forte que tinha com ela, mas seu falecimento está provocando dor em muita gente. Ela foi uma irmã mais velha que cuidou dos mais novos, sem nunca deixar para trás o amor, o carinho e a dedicação aos filhos. Foi por sua conta que, em um momento muito especial em minha vida, aprendi a ser uma mãe sensível e emotiva. Um exemplo de ser humano.
– Ana Lúcia Piccagli Parra