Dona Rosa, coroada por ser uma mulher guerreira aos 104 anos

Não, as mulheres não são todas iguais. Elas são diferentes, embora todas tenham em comum o tamanho do coração. Todas são bondosas, carregam um carinho no olhar e uma força angelical nos gestos. Merecem a homenagem em 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Mas é triste que em 2020 uma grande injustiça foi cometida. Na Sessão Solene da Câmara alusiva à data, receberam cumprimentos 12 mulheres escolhidas, aparentemente, por puros interesses eleitorais. Nada contra elas. Mas irreparável a ausência de Rosa Maria de Jesus, guerreira de 104 anos, a mulher mais velha da cidade. Sem desmerecer ninguém, a FOLHA escolheu para representar as mulheres de São Caetano Dona Rosa Maria de Jesus e sua lucidez para marcar o 8 de março. Negra, cabelos brancos e um inseparável cachimbo “que não largo por nada”, Dona Rosa nasceu no dia 28 de setembro de 1921 em Jacobina, na Bahia. Teve dois filhos, Maria Rosa, hoje com 77 anos, e Benedito, falecido há 7 anos. São 6 netos, 7 bisnetos e 2 tataranetos, que a cobrem de carinho, cuidado, amor e respeito.
Aos 40 anos, com os filhos, a cara e a coragem, Dona Rosa desembarcou em São Caetano nos anos 60 para “tentar ter uma vida melhor, dar mais condições para os meus filhos”. Analfabeta, trabalhou em algumas empresas, foi doméstica, cozinheira. É uma das fundadoras do Bairro Santa Maria, onde logo começou a construir. “Mas era tudo diferente, um matagal só, lama nos dias de chuva. Eu não tinha dinheiro para pegar ônibus e, com Deus no coração, ia pelo caminho perigoso”, relembra, sempre mexendo no seu cachimbo. Foi quando teve a ideia de começar a vender roupas nas feiras livres. Percorria São Caetano, Santo André, São Bernardo, São Paulo e até outros Estados. Foram 60 anos nessa lida. E, acreditem se quiserem, Dona Rosa trabalhou de sol a sol até os 102 anos! Ela não é estudada, mas o que sai de sua boca é pura sabedoria. A análise que ela faz da São Caetano de ontem e de hoje merece ser refletida por cada um dos que lerem essa homenagem. “A cidade cresceu muito rápido, mas não é pra isso que eu ligo não. O que me deixa triste é que, naquele tempo, todo mundo era mais unido, um dava uma mão para o outro quando tinha um problema. Hoje ninguém está nem aí com ninguém, e meu coração dói por isso”. Dá para não se emocionar diante de uma senhorinha franzina, cachimbinho na mão, que aos 104 anos só parou de trabalhar aos 102? Entre uma socialite, agente política ou qualquer posição que o valha, a FOLHA, co
mo sempre, fica com o povo. Dona Rosa, feliz dia da mulher para a senhora. Em tempo: é necessário fazer constar que em 2019 o prefeito Auricchio concedeu a honraria de Cidadã da História de São Caetano a Dona Rosa. Ato nobre e demonstração de carinho e respeito.

Por Carlinhos Lira
Editor da FOLHA

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