Na linha de frente do combate à Covid-19, médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, psicólogos, fisioterapeutas, assistente sociais, farmacêuticos, atendentes, encarregados da limpeza, equipes do Same (Serviço de Atendimento Móvel de Emergência) e demais funcionários de hospitais e centros recém-montados para atender a população, lutam diariamente e incessantemente contra a pandemia do novo coronavírus. Os aplausos chegam de todos os cantos e também por vídeos nas redes sociais. Os agradecimentos se multiplicam. Durante plantões, emergências e crises, eles colocam em prática o conhecimento para salvar vidas, o cuidado contra o sofrimento, a técnica a serviço da informação e o trabalho para impedir o avanço de um inimigo invisível. O que aprendemos vai além das descobertas científicas. Em tempos de pandemia, o ponto ressaltado constantemente pelos médicos e demais profissionais da saúde é a solidariedade desenvolvida. A produção e doação de máscaras caseiras, o auxílio oferecido aos vizinhos que são do grupo de risco e o acolhimento de idosos em situação de vulnerabilidade tem sido vistos desde março, quando foi registrado o primeiro caso de Covid-19 no País. Os protagonistas, este ano, serão todos os trabalhadores que estão, literalmente, dando suas vidas no combate contra o vírus. Entre os profissionais considerados essenciais, são os do setor da Saúde que têm pago o mais alto preço. A eles nossa eterna gratidão e admiração. Conheça aqui algumas histórias de nossos Heróis da Saúde:
‘Enfrentei a Covid 19, mas voltei a trabalhar’
Sou enfermeiro há 20 anos. Minha formação foi toda voltada para urgência e emergência. Trabalhei um tempo em pronto socorro e UTI e estou no atendimento pré-hospitalar de Santo André desde 2005 e de são Caetano desde 2008. No início da pandemia, ninguém acreditava que seria verdade. Quando estudávamos epidemiologia na faculdade, nunca iria imaginar que vivenciaria uma pandemia – talvez surtos, epidemias, mas pandemia parecia ser apenas coisa da literatura científica. Quando essa realidade chegou no nosso ambiente de trabalho, muitos colegas ficaram com a parte psicológica abalada, com medo da morte e de levar essa doença para os familiares. Desde o princípio estive na linha de frente, atendendo os casos suspeitos de Covid 19 na rua e fazendo as transferências dos casos confirmados no sistema de saúde. Como trabalho no suporte avançado, a minha experiência com esse perfil de paciente está sendo contínua desde o início dessa doença aqui na região. Os pacientes que pegam a versão mais grave da doença entram em choque séptico muito rápido, rebaixam nível de consciência, fazem hipotensão e a saturação de oxigênio cai drasticamente a níveis incompatíveis com a vida. No nosso serviço, o Equipamento de Proteção Individual (EPI) é completo. Fazemos uso de Máscara N95, óculos de proteção, protetor facial, luvas e macacão de tyvec. Mesmo assim, contraí a Covid 19. Passei muito mal, com febre, mal-estar, falta de ar. Fiquei 14 dias de licença médica em tratamento. Quando eu melhorei um pouco, minha esposa desenvolveu a doença, ficou grave, internada na UTI, mas no final deu tudo certo…
Fiquei com medo que meus 3 filhos também ficassem doentes, mas graças às forças superiores estão bem. Minha esposa e eu ficamos com sequela pulmonar devido a essa doença. Temos que usar todos os dias uma medicação broncodilatadora e antiinflamatória para melhorar a condição pulmonar.
Continuo trabalhando diariamente no SAME e o número de ocorrências de pacientes suspeitos parece não diminuir. Hoje a gente vê vários amigos sendo afastados, internados. Alguns se recuperam, outros não. Ouvimos também muitas histórias de familiares de amigos que são internados e que vem a óbito devido à gravidade da doença. Quando saímos de casa para ir trabalhar já não mais sabemos se iremos voltar, pois a qualquer momento podemos desenvolver a doença novamente, numa reinfecção. Aí, em vez de retornar para casa, poderemos ir para uma UTI e ficar internado. Aí só Deus sabe se sobreviveremos ou não.
André Tembikoski
Enfermeiro do SAME
‘Enfrentei a Covid 19, mas voltei a trabalhar’
Sou enfermeiro há 20 anos. Minha formação foi toda voltada para urgência e emergência. Trabalhei um tempo em pronto socorro e UTI e estou no atendimento pré-hospitalar de Santo André desde 2005 e de são Caetano desde 2008. No início da pandemia, ninguém acreditava que seria verdade. Quando estudávamos epidemiologia na faculdade, nunca iria imaginar que vivenciaria uma pandemia – talvez surtos, epidemias, mas pandemia parecia ser apenas coisa da literatura científica. Quando essa realidade chegou no nosso ambiente de trabalho, muitos colegas ficaram com a parte psicológica abalada, com medo da morte e de levar essa doença para os familiares. Desde o princípio estive na linha de frente, atendendo os casos suspeitos de Covid 19 na rua e fazendo as transferências dos casos confirmados no sistema de saúde. Como trabalho no suporte avançado, a minha experiência com esse perfil de paciente está sendo contínua desde o início dessa doença aqui na região. Os pacientes que pegam a versão mais grave da doença entram em choque séptico muito rápido, rebaixam nível de consciência, fazem hipotensão e a saturação de oxigênio cai drasticamente a níveis incompatíveis com a vida. No nosso serviço, o Equipamento de Proteção Individual (EPI) é completo. Fazemos uso de Máscara N95, óculos de proteção, protetor facial, luvas e macacão de tyvec. Mesmo assim, contraí a Covid 19. Passei muito mal, com febre, mal-estar, falta de ar. Fiquei 14 dias de licença médica em tratamento. Quando eu melhorei um pouco, minha esposa desenvolveu a doença, ficou grave, internada na UTI, mas no final deu tudo certo… Fiquei com medo que meus 3 filhos também ficassem doentes, mas graças às forças superiores estão bem. Minha esposa e eu ficamos com sequela pulmonar devido a essa doença. Temos que usar todos os dias uma medicação broncodilatadora e antiinflamatória para melhorar a condição pulmonar. Continuo trabalhando diariamente no SAME e o número de ocorrências de pacientes suspeitos parece não diminuir. Hoje a gente vê vários amigos sendo afastados, internados. Alguns se recuperam, outros não. Ouvimos também muitas histórias de familiares de amigos que são internados e que vem a óbito devido à gravidade da doença.
Quando saímos de casa para ir trabalhar já não mais sabemos se iremos voltar, pois a qualquer momento podemos
desenvolver a doença novamente, numa reinfecção. Aí, em vez de retornar para casa, poderemos ir para uma UTI e ficar internado. Aí só Deus sabe se ou não.
André Tembikoski
Enfermeiro do SAME
‘Lutamos contra um inimigo invisível, mas com muita garra’
Minha rotina mudou radicalmente. Eu atuava como enfermeira na UTI Pediátrica e fui transferida para a UTI Covid 2 do Hospital Marcia Braido logo no começo da pandemia. É a autêntica linha de frente. Foi um imenso desafio pessoal e profissional. No princípio, algumas coisas me abalaram muito. Houve um período que perdíamos pelo menos 1 paciente por plantão. Por mais que sejamos preparados para isso, a imprevisibilidade do coronavírus torna tudo mais dramático. Eram pessoas que estavam em um estado clínico razoável, que se despediam da família normalmente, e de repente pioravam de maneira vertiginosa, evoluindo para o óbito, apesar de todo nosso esforço. Na primeira semana, houve um momento em que travei. Não consegui acompanhar o começo da entubação de um paciente. Minutos antes havíamos tido um óbito. Simplesmente não tive tempo para processar as emoções. Mas me recuperei e participei do processo. O paciente graças a Deus se recuperou, embora tenha ficado com sequelas. A estrutura que São Caetano oferece é digna de nota e nossa grande aliada. Não faltam equipamentos para os profissionais e nem processos para o atendimento dos pacientes. A condução que o prefeito Auricchio vem dando ao combate ao coronavírus é excelente. É por isso que os casos continuam chegando, é verdade, mas com menos gravidade. A situação está se estabilizando. Faço pós-graduação e sempre comento isso com meus colegas e professores. O problema é a doença. Esse vírus é muito perigoso. Não se conhece em toda extensão como ele age, e estamos estudando e aprendendo na emergência. Sempre me mantenho atualizada no cenário e também nos avanços científicos. Mesmo cansada, eu me esforço muito nesse sentido. Sinceramente, eu não tenho medo de ficar doente. Tenho medo de infectar as pessoas que amo. Por isso, tomo todos os cuidados na hora de me paramentar (colocar os Equipamentos de Proteção Individual, os EPIs) e de me desparamentar. Quando chego em casa, passo por mais um longo e cuidadoso processo para evitar que qualquer elemento externo invada meu lar. Sempre que chego, estou com o pensamento firme de não estar levando comigo o coronavírus. Venho de uma família muito numerosa e afetuosa. Temos o costume de estarmos sempre juntos. Infelizmente, isso não tem sido possível. Não vejo minha avó desde fevereiro, e isso dói. Tanto pessoal quanto profissionalmente já mudei muito. Amadureci demais. Tenho uma missão pela frente, e meu foco é 100% nela.
Maiana Lira
Enfermeira da UTI Covid 2 do Hospital Marcia Braido