Lava Jato: não é hora do fim?

Criada em março de 2014 pela Polícia Federal com suporte do Ministério Público com objetivo de investigar o complexo sistema de corrupção criado na Petrobras, a Operação Lava Jato está há 6 anos em funcionamento e alterou completamente o cenário econômico e político do Brasil. Com figuras de destaque como o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, o coordenador da força-tarefa Deltan Dallagnol e o então juiz federal Sérgio Moro, a ação prendeu, julgou e condenou dezenas de pessoas, desmantelou cartéis e esquemas de corrupção e recuperou milhões de reais. Políticos tiveram carreiras encerradas, empresas enfraquecidas e até um ex-presidente foi preso, Luiz Inácio Lula da Silva. A Lava Jato contou na maior parte de sua existência com amplo apoio popular, econômico e midiático, por objetivos diversos – um deles era o antipetismo de setores da sociedade. Com esse capital, a operação cresceu além da conta, fugiu de seu objetivo, cometeu ilícitos e Moro (que como juiz na teoria deveria ser imparcial)foi alçado à condição de herói. Tudo devidamente justificado pela nobre causa do combate à corrupção.
O jogo começa a mudar com a saída de cena do PT de cena e a chegada de Jair Bolsonaro ao poder. Moro trocou a magistratura e o verniz ético para ser ministro da Justiça bolsonarista. Após desavenças com o presidente, saiu do cargo e se posiciona como précandidato não declarado para 2022. As 2019 mensagens vazadas dos procuradores da ação e divulgadas pelo site The Intercept Brasil também danificaram sua imagem, com mostras de partidarismo e parcialidade A operação agora conta com rejeição em setores da sociedade e trava cabo de guerra com o novo procurador-geral, Augusto Aras. Evidentemente que a Lava Jato teve algumas qualidades e boas ações. Entretanto, está nítido há muito tempo o projeto político que há por trás dela. Primeiro, o alvo era o PT e seus aliados, após a derrocada petista, passou a ser o MDB de Michel Temer, e agora o PSDB. A sensação que passa é a de limpeza de terreno, ou seja, colocar toda a elite política do país no mesmo balaio da corrupção e malfeitos. Outro efeito colateral da operação foi o de praticamente quebrar diversas empresas em nome de combater as más práticas, principalmente no ramo da construção civil. A Petrobras só não foi à bancarrota devido ao amparo estatal e de mercado. E por falar na petrolífera, a Lava Jato hoje já não a investiga. Ampliou-se para diversos ramos. Quem lhe deu poder para abrir tantas linhas de ação? Ela não está se confundindo com uma instituição permanente de Estado, sendo que é apenas mais uma operação? É hora de agradecer aos serviços e desserviços prestados e encerrá-la. Para o bem do país, que não precisa de uma justiça paralela e sem limites.

Caio Bruno é jornalista, pós-graduado em Comunicação e especialista em Marketing Político. www.caiobruno.com.br