Julgamentos sociais e dependência financeira são fatores que impedem registro de casos de violência doméstica

São Caetano do Sul aos olhos da sociedade como um todo é uma cidade pacata, com baixos índices criminais nas mais variadas modalidades. No território do menor município do ABC, índices ligados a crimes patrimoniais como, por exemplo, roubo e furto de veículos chamam a atenção. Com uma população, em sua grande maioria, ns classes sociais mais abastadas e com nível de escolaridade mais elevado, cria-se uma falsa ilusão de que a violência doméstica é quase inexistente na cidade. De fato, não são comuns relatos de mulheres agredidas fisicamente na cidade, no entanto, os números mostram uma triste situação. Apenas para efeito de comparação. São Caetano tem uma população estimada em 160 mil habitantes, com cerca de 300 inquéritos por violência doméstica registrados e em andamento na recém-inaugurada DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), número se comparado proporcionalmente com o município vizinho de São Bernardo do Campo torna-se grande. Por lá, na maior território do ABC e com população próxima de um milhão, os inquéritos giram entorno de mil. Daniela Attab Del Nero, titular da DDM de São Caetano e delegada plantonista no 3º DP (Distrito Policial) de São Bernardo, os números podem ser ainda maiores, questões culturais influenciam na hora de buscar ajuda policial e, por isso, há subnotificações de casos. “A vítima de violência doméstica não procura a delegacia por série de fatores. Primeiro por dependência financeira, por medo de julgamento social de ser conhecida como a ‘largada’ ou para se evitar um escândalo. No geral, boa parte destas mulheres também acreditam que o agressor pode mudar ou elas não possuem uma família que possa dar suporte”, esclarece a policial com oito anos de carreira, todos eles dedicados à Seccional de São Bernardo que engloba São Caetano. A delegada também discorre sobre o entendimento do que seria a violência doméstica. “No geral, as vítimas sofrem danos, não físicos, mas se quer imaginam que estão diante de agressores. Nas classes mais altas a violência física ocorre com menos frequência. A violência psicológica, a moral e a financeira são bem comuns nesta parcela da sociedade”. GÊNERO A DDM de São Caetano, além de atender mulheres é adaptada para atender crianças e adolescentes e pessoas que se identificam com o gênero feminino, independentemente de sua formação biológica. ESTUPROS Dados divulgados pela SSP (Secretaria de Segurança Pública) mostram que nos últimos anos os casos de estupros e estupros de vulneráveis têm oscilado bastante e preocupado as autoridades.  Em 2016 foram 22 casos, 2017 registrados 25 ocorrências, já em 2018 total de 23, no ano passado 32 e no decorrer deste ano, até setembro 14 casos. A delegada conta que os crimes sexuais, em boa parte das ocorrências “são cometidos por pessoas próximas da vítima, normalmente familiares ou vizinhos”. Esta modalidade criminal de danos irreparáveis nas vítimas é difícil de ser prevenida, afinal acontecem em grande maioria dentro do lar da vítima ou do agressor