‘Sou inocente e estou sereno’, diz Auricchio

“Fui dormir vereador e acordei prefeito.” Foi assim que Márcio Gley, conhecido como Chaveirinho (PT), resumiu a mudança repentina de cargo na cidade que hoje governa interinamente. Barreira (CE), com pouco mais de 20 mil habitantes, esperava começar o ano sob a gestão de Dra. Auxiliadora (PSD), mas as pendências da chapa eleita com a Justiça impediram a diplomação e a posse em 1º de janeiro. O que ninguém esperava era que o primeiro interino a assumir a Prefeitura renunciasse com apenas 30 dias à frente do cargo. Funcionários em falta. Em Petrópolis (RJ), a pendenga jurídica faz faltar mais do que um prefeito definitivo.

A cidade precisa contratar servidores nas áreas de Saúde e Educação, mas o titular interino, Hingo Hammes (DEM), não pode. Acontece que ele pretende disputar o novo pleito, ainda sem data marcada, e está sujeito às restrições típicas de quem disputa a eleição no cargo. “Temos uma dificuldade de contratação de funcionários da Saúde, principalmente médicos. Poderia fazer um concurso público, mas não posso por conta da questão eleitoral.

Estaria me beneficiando, e a Justiça pode entender dessa maneira. O mesmo vale para a Educação.” Hammes assumiu o posto até que a Justiça Eleitoral decida sobre a candidatura de Rubens Bomtempo (PSB), eleito, mas condenado por improbidade administrativa em atos praticados quando dirigiu o município entre 2005 e 2008. “Tenho a mesma autonomia de um prefeito eleito. Mas o que peca muito é o planejamento.

Não dá para planejar nada a longo prazo”, afirmou Hammes. O prefeito interino de Petrópolis optou por mudar praticamente toda a equipe de secretários do antigo titular, Bernardo Rossi (PL). As alterações no primeiro e segundo escalões do governo causam mais tensão quando o interino e o eleito são de grupos políticos diferentes, como ocorre em Petrópolis. “Pode se ter uma descontinuidade em vários projetos.

Além disso, essa troca de secretários faz com que se perca recursos e também tempo, em função de toda a burocracia. E em um momento como o atual, o tempo é importante para salvar vidas e dar assistência à população”, afirmou Ursula Peres, pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole da ECA-USP. Ao contrário de Petrópolis, o prefeito e o interino de São Caetano são aliados, o que contribui para menos mudanças na administração. O interino Tite Campanella (Cidadania) assumiu o plano de governo do prefeito reeleito (mas não empossado, José Auricchio Jr., do PSDB ) e manteve quase toda a equipe. “Numa posição de interinidade, o mais inteligente é saber que aquele mandato não te pertence”, afirmou. Auricchio Jr. afirmou aguardar a decisão da Justiça “com serenidade”. Ele foi condenado em segunda instância e, por meio de nota, disse ser inocente. Ainda que o número de cidades governadas interinamente seja pequeno diante dos 5570 municípios do País, na prática a indefinição é uma enorme pedra no sapato na execução de qualquer programa ou política pública e no planejamento de ações de médio de longo prazo, sobretudo em meio à pandemia de covid-19. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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