Pesquisa da USCS discute patrimônio, cultura e memória

Estudo de Iniciação Científica reúne narrativas e representações da cidade e da arquitetura de São Bernardo do Campo

Investigar o patrimônio cultural em sua relação com a memória das experiências e as vivências dos moradores da região do ABC, especificamente dos espaços urbanos e da arquitetura da cidade de São Bernardo do Campo e relacionar tais memórias aos registros fotográficos sobre a cidade foram os objetivos da pesquisa de Iniciação Científica da aluna Lais de Carvalho Macedo, no período de 2020 a 2021, do curso de Arquitetura e Urbanismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul). O estudo foi orientado pela Profª. Dra. Franceli Guaraldo e contou pesquisa de delineamento documental, realizada no acervo do HiperMemo da USCS, e no acervo do Serviço de Memória e Acervo de São Bernardo do Campo, e outras instituições voltadas à memória e cultura da região, assim como em redes sociais e websites relacionados à questão.

A aluna partiu das seguintes perguntas-problema para dar início ao seu trabalho: quais são as representações formuladas nas memórias narradas por moradores da cidade de São Bernardo do Campo sobre os espaços urbanos, a arquitetura dessas cidades? E, como essas representações se apresentam nas imagens fotográficas? A pesquisa de Lais faz parte de um projeto maior denominado “Memórias do ABC” e, e especificamente, da pesquisa “Patrimônio, Cultura e Memória: Memórias e Representações dos Espaços Urbanos, da Arquitetura e do Design das Cidades do ABC Paulista”.

O trabalho de Lais registra que a qualidade de vida está diretamente relacionada à forma como as pessoas percebem, experienciam e se apropriam dos espaços da cidade, da arquitetura e dos artefatos em seu cotidiano. Segundo a pesquisadora, as experiências são vivenciadas em espaços urbanos das cidades e edificações que as localizam, e estas últimas, por sua vez, interferem e modelam as identidades e vivências dos indivíduos e grupos sociais. “A percepção das cidades é intermediada pela memória de seus espaços urbanos. A memória gera identificação das pessoas com os espaços e interfere diretamente na sua vivência”, relata Lais.

Sobre seu locus de pesquisa, a aluna de IC explica que a cidade de São Bernardo do Campo, situada na região do ABC, possui o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (COMPAHC – SBC), que busca identificar edificações, praças, ruas e objetos que sejam significativos para a história e identidade cultural da cidade. Esse Conselho considera necessário que o patrimônio seja valorizado e esteja inserido na vida cotidiana e na dinâmica social das cidades. “Tendo como ponto de partida o próprio conceito de patrimônio, é necessário identificar e considerar, além os bens de caráter monumental, aqueles que são significativos e representativos da memória dos diversos grupos sociais, e da comunidade que vive na cidade de São Bernardo”, salienta a pesquisadora. E complementa: “essa pesquisa possibilita o estabelecimento de diversas ações voltadas à valorização do patrimônio e da identidade cultural, assim como, de ações voltadas ao planejamento urbano que permita uma melhor qualidade de vida dos moradores da cidade de São Bernardo do Campo e da região do ABC como um todo”.

O relatório final do trabalho de Lais ressalta que “Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável” para 2030 indicam a necessidade de pensar as cidades e assentamentos humanos como inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis, e propõe “fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e natural do mundo” (ODS 11.4, da ONU), considerando que o patrimônio cultural visa contribuir para o equilíbrio entre desenvolvimento econômico, social e preservação ambiental e possibilitando uma melhor qualidade de vida dos moradores da cidade de São Bernardo e das cidades da região do ABC como um todo.

Segundo Lais, a pesquisa de registros iconográficos, notadamente fotográficos, foi realizada a partir de documentos existentes no Acervo Online do Centro de Memória da Prefeitura de São Bernardo, e em redes sociais, especificamente junto ao grupo “Fotos Antigas de São Bernardo do Campo” existente no Facebook, que reúne moradores da Cidade e região. “A partir desta análise, buscamos articular as questões sobre memória e patrimônio cultural através dos relatos de vida dos moradores. Esta associação nos permitiu compreender o espaço de análise e obter um diagnóstico da forma como este relaciona-se com as pessoas e sobre sua importância na formação de uma lembrança”, conta Lais.

Com a análise feita partindo das fotografias para as narrativas, tanto do perfil da Secretaria da Cultura de São Bernardo do Campo, quanto do grupo “Fotos Antigas de São Bernardo do Campo”, Lais obteve resultados mais específicos que evocavam lembranças relacionadas às imagens. “Muitas das interações partiram de saudosismo, mas que, ainda assim, estavam vinculadas às narrativas de história de vida dos moradores da Cidade e região”, explica. “A partir da coleta e análise dos comentários postados para as diversas fotografias compartilhadas no perfil ‘fotos Antigas de São Bernardo’, podemos observar que o compartilhamento de imagens no grupo desta rede social dá margem para que os integrantes, sejam eles moradores ou não, reconstruam suas narrativas acerca das fotografias exibidas. Ainda que o maior engajamento esteja relacionado à área central, as figuras fomentam essa ação, o que permite que a história do município continue presente e feita a partir de uma construção coletiva”, explica a pesquisadora.

Lais acredita que os resultados obtidos validam o emprego de narrativas orais e registros fotográficos como método e fonte para estudos sobre patrimônio, memória e cultura, introduzindo um caráter inovador em pesquisas que envolvam um interesse coletivo e/ou público de valorização e preservação da memória e da cultura associadas ao patrimônio cultural das cidades.

A orientadora da pesquisa de Iniciação Científica de Lais de Carvalho Macedo, a Profa. Dra. Franceli Guaraldo, destaca a importância desse trabalho: “Pesquisas que abordam a valorização e preservação dos bens culturais das cidades a partir das memórias e narrativas orais e fotográficas elaboradas pelos próprios moradores dessas cidades, como a realizada pela Laís, são imprescindíveis para a área de Arquitetura e Design pois possibilitam pensar a cidade de modo mais inclusivo, dando visibilidade a novas narrativas de patrimônio que levam em consideração a apropriação dos espaços urbanos pelas pessoas em seu cotidiano, e que portanto, contribuem para a conformação da identidade cultural dessas comunidades”, avalia Franceli.

O Programa de Iniciação Científica da USCS é voltado aos estudantes de graduação, servindo de incentivo à sua formação, despertando vocações científicas e incentivando talentos potenciais dos estudantes de graduação na vida acadêmica, a partir do desenvolvimento de pesquisas com mérito científico. Para saber mais sobre o Programa, acesse: https://www.uscs.edu.br/iniciacao-cientifica

O curso de Arquitetura e Urbanismo da USCS tem por objetivo desenvolver habilidades e competências do estudante para capacitá-lo ao pleno exercício profissional, possibilitando sua atuação não só nos setores mais consolidados do mercado, como construtoras e escritórios de arquitetura, mas também em novas áreas, como os coletivos de trabalho e instituições de pesquisa, ensino e inovação aplicadas à Arquitetura e ao Urbanismo. Saiba mais sobre o curso em: https://www.uscs.edu.br/cursos-de-graduacao/industria-criativa/arquitetura-e-urbanismo

FOTO: Campus Conceição, onde é oferecido o curso de Arquitetura e Urbanismo.

28/2/24