“Respeitarei a autonomia e a dignidade do meu paciente”. Um dos trechos do Juramento de Hipócrates, que todo formando em Medicina deve fazer, calou fundo n’alma do jovem e entusiasta sancaetanenses Jesus Adalberto Gutierrez, há mais de 3 décadas. Oriundo dos bancos da Faculdade de Ciências Médicas de Santos – e que viria a fazer residência e especialização em ortopedia no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Santa Casa e Hospital São Camilo -, decidiu que iria sempre tratar seus pacientes de uma forma diferente.
Na verdade, esse já era um sentimento que vinha de antes, quando, como estudante, foi contratado pela Prefeitura local como auxiliar médico no Pronto Socorro da Praia Grande. “Vivenciei a Medicina desde muito cedo, a realidade dos centros de atendimento”, diz.
Dr. Jesus passou pela Prefeitura de São Paulo, Mauá, pelo Estado, mas foi em sua São Caetano que montou seu consultório particular e exerceu a maior parte de sua carreira, iniciando como médico concursado no antigo Pronto Socorro da Rua Peri.
“Quando o paciente chega até você ele está fragilizado, em sofrimento. Você tem de acolhe-lo, ser seu amigo”, prega Dr. Jesus. “Você tem de acalmá-lo, abraça-lo, e isso ajuda. Já é muito, um tratamento psicológico maravilhoso. Ele já sai renovado do consultório. Aprendi isso com grandes mestres e com a vida”.
E nesse pensamento, ele não nega que muitas vezes se revoltou com a falta de infraestrutura que os profissionais médicos enfrentam em algumas localidades. “São Caetano é diferenciada, e tenho o maior prazer de continuar a clinicar aqui, mesmo depois de ter me aposentado pelo INSS”, afirma.
Dr. Jesus lembra que em um dos grandes centros nos quais trabalhou, em outra cidade, atendeu a uma senhora com dor nos quadris. Pediu exames e verificou que havia um tumor na região. “Chamei a família, falei da gravidade e que ela deveria passar imediatamente pela avaliação de um oncologista. Fiz todos os encaminhamentos afirmando a urgência, me empenhei de várias formas”, lembra.
“Achei que tudo estava em bom termo quando, mais de um ano depois, passando pelo ambulatório, eu reconheci um dos membros da família. Com ele, sentada numa cadeira de rodas, cadavérica, a sombra de um ser humano, a paciente. Eles ainda não haviam conseguido passar pelo oncologista. Meu Deus! Como isso pode acontecer?”, indigna-se ainda.
Para ele, o fato de oferecer uma grande infraestrutura integrada e muitas especialidades faz de São Caetano uma cidade diferente. “Há pessoas que se mudaram para cá para ter um atendimento médico digno”, informa. “E mais coisas estão sendo feitas, nunca para. O que é importante em Saúde, porque a demanda sempre cresce e quanto mais você oferece ao paciente, mas ele espera de você. Importante também que temos um prefeito médico, com olhar diferenciado”.
Dr. Jesus reduziu há cerca de 5 anos seu ritmo, pois ficou doente. Teve de fazer um transplante de fígado, mas garante que “está até melhor do que antes”. Dorme cedo e acorda diariamente às 4h para ler e estudar. “É incrível como depois do transplante minha capacidade de absorção de conhecimento aumentou”, surpreende-se. Atualmente, está lendo 6 livros ao mesmo tempo, de temas que vão de Medicina à Mecânica.
A Mecânica, aliás, é uma de suas paixões nas horas vagas. Ama carros antigos e põe a mão na massa. “Tenho alguns carros velhos aqui e estou sempre inventando”, brinca. O contato começou desde cedo, pois seu avô tinha uma das maiores autopeças de São Caetano. “Do lado, havia uma oficina de cabine de caminhão eu não saía de lá desde criança. Adoro ferramentas”, revela.
Poucos sabem que ele é músico profissional, formado pela Fundação das Artes e conservatório de percussão. “Toquei em várias bandas de amigos. Me convidavam e eu ia tocar. Toquei muito rock eu, meu irmão e meu sobrinho. Nunca conseguimos um nome para a banda. Foi de 1980 até uns dez anos atrás. A doença atrapalhou um pouco. Hoje só treino”.
Casado com Sueli Latuf Gutierrez, tem duas filhas: a médica homeopata Thaís e a engenheira eletrônica Talita. O xodó é a neta de 10 anos, Carolina.
Dr. Jesus também pensa políticas públicas. “Eu tenho muitas ideias diferentes. Sou de uma época em que não havia ambulatórios nas cidades, você ia em qualquer médico. Todos eram credenciados. Era como um convênio. Quem pagava era o poder público. Eu voltaria no tempo. Talvez se eu tivesse poder, faria isso. Deixar o paciente à vontade. Seria uma evolução do SUS, que ficaria com os procedimentos”. Fica a ideia de um dos mais conceituados e queridos médicos da cidade.