Mestrado na USCS resulta em linha de cuidado para atendimento à saúde da população indígena

Mesmo antes da defesa, o trabalho já virou política pública e recebeu financiamento do governo federal

Elaborar uma linha de cuidado para atendimento à saúde da população indígena do município de Guarulhos, a partir do trabalho da equipe de saúde da Estratégia Saúde da Família (ESF), já existente e preconizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foi o objetivo da pesquisa da médica Carla Rafaela Donegá, aluna do Mestrado Profissional em Inovação no Ensino Superior em Saúde (PPGES) da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Para a realização de sua pesquisa, além da revisão teórica, a pesquisadora utilizou estudo descritivo, exploratório, de abordagem qualitativa, pautado na pesquisa ação, com triangulação de coleta de dados, envolvendo profissionais de saúde, coordenadores dos programas de residência, levantamento documental e observação de campo. A orientadora da pesquisa de Carla foi a Profa. Dra. Rosamaria Rodrigues Garcia.

Carla conta que o estudo foi desenvolvido durante o período em que cursava o Programa de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade no município de Guarulhos. “Como médica residente no programa de residência médica do município, tive a oportunidade única de vivenciar os desafios e as lacunas existentes na oferta de serviços de saúde voltados, especificamente, para a atenção à saúde indígena em contextos urbanos e integrar conhecimentos na área”, revela a pesquisadora.

O trabalho de Carla registra que os resultados preliminares do Censo 2022, indicam que no Brasil, hoje, existe um número de aproximadamente 84% maior, quando comparado com os dados de 2010, quando somados 896,9 mil pessoas que se reconhecem como indígenas. Já em abril de 2023, na prévia dos dados divulgados pelo IBGE, foram registradas 1.652.876 pessoas indígenas. O estado de São Paulo possui, segundo o Censo 2022, 55.295 de população indígena em 2022, o que mostra um aumento de 51,63% com relação ao Censo 2010, que contava com 41.981 de indígenas. As cinco cidades com maior concentração da população indígena no estado de São Paulo são, respectivamente, São Paulo com 19.777, Guarulhos com 1.649, Campinas com 1.569, São Bernardo do Campo com 1.300 e Sorocaba com 794.

A pesquisadora conta que a saúde indígena no SUS ainda passa pela fronteira da inclusão, sendo necessário o fortalecimento e o planejamento, com a participação de diferentes povos originários, estimulando debates sobre políticas eficazes, a fim de reduzir os precários atendimentos de saúde, que todavia, mantém na grande maioria, características itinerantes e demanda fragmentada. A justificativa da pesquisa de Carla reside na necessidade premente de desenvolver e aprimorar estratégias de cuidado integral à saúde da população indígena que vive nos centros urbanos e coloca Guarulhos como precursor desse cuidado e dessa discussão, uma vez que, a legislação pré-existente atribui à União a responsabilidade integral pela execução das políticas a serem desenvolvidas junto aos povos indígenas e não contempla o contexto urbano, tornando esse grupo o mais marginalizado dentro das políticas públicas.

Foi realizado um estudo descritivo, exploratório, de abordagem qualitativa, com amostra não probabilística, selecionada por conveniência, pautado na pesquisa ação, focado na gestão, com o objetivo de propor a construção de uma linha de cuidado para população indígena, que vivem na terra de retomada urbana Filhos desta Terra, cadastrada na UBS Cabuçu, do Município de Guarulhos, organizando os fluxos de atendimento, protocolos e diretrizes, assim como inserir a atuação organizada e sistematizada de residentes médicos do Programa de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidades do Município de Guarulhos, bem como de residentes do Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica e Saúde da Família do município de Guarulhos.

Segundo a médica pesquisadora, a triangulação de coleta de dados do seu estudo, foi realizada a partir de um levantamento documental; após essa etapa foram realizadas seis entrevistas semiestruturadas, nas modalidades online e presencial, onde foram realizadas coletas de dados das entrevistas, e, foi realizada a observação do participante. Entre os entrevistados estavam Coordenadores do Programa de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade da Prefeitura Municipal de Guarulhos e do Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica e Saúde da Família da Prefeitura Municipal de Guarulhos, além de Coordenadores e funcionários do Ambulatório de Saúde dos Povos Indígenas, sediado na Universidade Federal de São Paulo e Coordenadores do Projeto Xingu, sediado na Universidade Federal de São Paulo.

Carla lembra que a pesquisa foi intervencionista, pois durante o percurso, ela realizou, também, intervenções dentro do cenário de pesquisa, a saber: atendimentos a população indígena, ações de promoção de saúde e prevenção de doenças e agravos, práticas coletivas de cuidado, capacitação sobre conceitos de saúde privilegiada e diferenciada, sensibilização e capacitação dos profissionais, estudantes e residentes, organização dos protocolos e processos de trabalho.

Produto – O produto construído a partir da dissertação de Carla foi uma linha de cuidado. A linha de cuidado é uma imagem pensada para expressar os fluxos assistenciais seguros e garantidos ao usuário, com o objetivo de atender às necessidades de saúde. É o itinerário que o usuário realiza dentro de uma rede de saúde, incluindo segmentos não necessariamente inseridos no sistema de saúde, porém que participam de alguma forma da rede, assim como assistência social e entidades comunitárias. “A linha de cuidado dos povos indígenas foi elaborada com o objetivo de proporcionar uma melhoria significativa no acesso e qualidade dos serviços de saúde para a comunidade indígena local. É esperado que se estabeleça um fluxo contínuo de atendimento, englobando desde a prevenção e a promoção da saúde ao tratamento e o acompanhamento das condições específicas enfrentadas pelos indígenas”, ressalta a pesquisadora.

Sobre o PPGS
O Programa de Mestrado Profissional em Inovação no Ensino Superior em Saúde da USCS tem como objetivo proporcionar a formação de profissionais diferenciados, baseado em perfil de competência que contemple a produção de conhecimento aplicável nas instituições de nível superior e nos contextos de prática para a condução de intervenções de impacto social, sanitário e educacional no âmbito do Sistema Único de Saúde. Mais informações: https://uscs.edu.br/pos-stricto-sensu/ppgs/mestrado-profissional-em-saude.

19/9/24