Perdoar não significa esquecer. Perdoar é apenas um gesto oportuno que beira o simbólico para demonstrar superioridade e alguma compreensão. Perdoar fica para passagens bíblicas, para a frase de efeito de “perdoai, Pai, pois eles não sabem o que fazem”. Conversa! Quem faz maldade, perversidade, sacanagem, comete violência gratuita sabe muito bem o que faz e faz de ruim, pela índole, pelo caráter, pela falta de escrúpulos. Há muito tempo, fui atingido pelas consequências de uma frustração alheia e senti a dor da picada traiçoeira que doeu fundo por muito tempo. A dor já passou e o tempo ajudou a fazer adormecer a vontade de vingança, de retaliação, tudo dentro de um contexto de ódio puro, de ira santa. Deixei o infeliz pra lá. O destino se encarregaria de apresentar alguma cobrança por mim. E apresentou, e bateu nele, mas não aquietou a minha cicatriz, o “esquecer” passou longe. Pior que ele existem muitos, os que se aproveitam de um momento de fragilidade alheia e se armam de oportunismo barato para tirar uma vantagem pobre e se esquecem que o mundo gira, que a Terra é redonda e não adianta apressar o dia porque ele só nasce na hora certa e o sol se põe apenas quando a tarde acaba. Meu limite vai até “desculpar” quando aceito os argumentos de uma ignorância pura ou a infelicidade de uma casualidade que machucou. A covardia embasada na velhacaria de uma atitude ou um gesto proposital, com intuito de prejudicar e ferir gratuitamente não encontra compreensão no meu coração. (Carlinhos Lira, nos arredores do bairro Nova Gerty)