De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o quinto país que mais comete femincídios no mundo. A média é de 4,8 assassinatos para cada 100 mil mulheres.
Em São Paulo, um levantamento feito pelo Ministério Público aponta que, durante o período de quarentena e isolamento social por conta da pandemia de coronavírus, houve um aumento de 29% no número de medidas protetivas. Além de 51% a mais de prisões em flagrante e alta de 44% em denúncias de violência contra a mulher no telefone 190 na capital paulista.
São números que assustam, alertam e criam iniciativas dedicadas a cuidar de mulheres. Uma dessas ações vêm da Prefeitura de São Caetano do Sul (SP) que criou um projeto que combate, além dos atos de violência sofridos pelas vítimas, dá informações sobre prevenção, acolhendo mulheres que estão sofrendo qualquer tipo de abuso e que podem se tornar potenciais vítimas de criminosos.
O Ambulatório de Saúde Mental para Mulheres em Vulnerabilidade já realizou dezenas de atendimentos pela rede pública do Sistema Único de Saúde (SUS) com mulheres vítimas de violência doméstica, psicológica e abuso sexual.
Entre as mulheres, uma esteve casada por 20 anos. Pai das 3 filhas do casal, ela descobriu que o próprio marido abusava sexualmente de uma delas. “Eu me sentia culpada porque eu me perguntava assim: ‘como eu não conseguia ver esse tipo de abuso?’. E esse abuso era tudo através de brincadeira, brincando ele abusava dela. Eu tinha vontade de morrer”, conta uma das vítimas.
Outra vítima foi estuprada e espancada por um motorista de aplicativo. “Eu não confio mais em pessoas estranhas, se algum estranho se aproxima de mim eu fico com receio. Eu era uma pessoa bastante expansiva, conversava com todo mundo, conversava com estranhos e isso já não acontece mais”, conta. Depois de algumas semanas participando do programa, a mulher afirma que sente a diferença do apoio e aconselhamento, apesar das dificuldades.
“Infelizmente, a violência contra a mulher ela está enraizada na nossa cultura e na nossa sociedade, e quanto mais a gente puder falar disso, mais a gente vai desconstruindo isso”, afirma a psiquiatra e coordenadora de saúde mental de São Caetano do Sul, Flávia Ismael.
Para combater esse tipo de violência, a iniciativa é motivo de orgulho para Verônica de Alencar, presidente do conselho da mulher da cidade. “A prioridade do Conselho é trazer informação e trazer projeto para que as mulheres se sintam empoderadas e que elas não estão sozinhas”, afirma, enfatizando que o único caminho, nesses casos, é a denúncia. “Não se cale, é um problema de todos, não é um problema individual, é um problema de todos nós”.